Já o dissemos por aqui e voltamos a repetir. Descender é, muito à boleia da arte de Dustin Nguyen, a melhor série de banda desenhada do momento. Para quem ainda não se aventurou neste universo e der por si a ler “Singularidades” (G. Floy, 2019), o terceiro volume da edição portuguesa, é desde logo brindado com uma introdução à medida, que ajuda a entrar de cabeça neste mundo singular:
“Há cerca de uma década, robôs gigantes, chamados Os Colectores, apareceram subitamente em órbita dos Nove Mundos Centrais do Conselho Galáctico Unido (CGU). Depois de se activarem, lançaram a destruição sobre os mundos humanos, antes de desaparecerem de novo. Temendo a existência de alguma ligação entre esses Colectores e os milhões de robôs existentes no CGU, motins e extermínios anti-robôs varreram a galáxia.”
Faltará acrescentar que, após o extermínio de quase todos os robôs por Sucateiros especializados, TIM-21, um pequeno robô com a forma humana, regressa à vida, acabando por constituir uma irmandade formada por Bandit, um mascote-robô, Broca, um robô mineiro assim para o gigante, Dr. Quon, o seu criador, e a Capitã Telsa, uma oficial rebelde do CGU. Mas há também TIM-22, o doppelganger de TIM-21 com tendências homicidas, e Andy, o “irmão” perdido de TIM-21 que se tornou num implacável caçador de robôs.
Neste terceiro volume – que reúne os números #12-16 da série – recuamos uma década até ao Planeta Niyrata, onde TIM-22 é deixado com alguém que acha que os robôs vão “tomar o raio do CGU”, sofrendo nos chips e circuitos uma dose extrema de bullying, trancado durante três semanas a fio dentro de um armário apertado – ao pé disto, Harry Potter teve uma arrecadação e uma infância cinco estrelas. Depois de mais umas agressões, uns quantos cigarros apagados na cara, outros oito meses de armário e alguns anos em fuga, TIM-22 é salvo por Prius, que lhe diz que os tempos de jogar às escondidas já eram. Nos tempos actuais e perante o deslumbramento de Prius por TIM-21, TIM-22 pretende resolver as coisas à moda de Highlander: “O Prius vai reclamar este universo para as máquinas. E escolheu-me como seu filho”.
É, até ao momento, o volume onde vislumbramos o passado de muitas das personagens centrais da trama: seguimos os passados de Telsa na colónia mineira de Dirishu-6, onde se dá um momento digno de figurar no Wall-E; o percurso do jovem Andy quando chegou ao Planeta Niyrata, e que o fará seguir a profissão de sucateiro; os anos de hibernação de TIM-21, algo secantes para Bandit; ou o passado negro de Broca, que tem na ponta da língua metálica o maior cartão-de-visita no que toca à auto-estima: “O Broca é uma moca”. Continua incrível esta ópera espacial aos quadradinhos.
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