Se fôssemos convidados a escrevinhar uma lista de ilustradores capazes de mergulhar com moderada pompa, muito estilo e sem sombra de circunstância no mundo da infância, há um nome que muito provavelmente faria parte de muito boa lista: Yara Kono. Uma rara habilidade que, na companhia das palavras de Isabel Minhós Martins, ganha relevo maior em “Daqui Ali” (Planeta Tangerina, 2021), um pequeno e delicioso álbum sobre a aventura e o espanto dos primeiros passos.
Um livro que quase convida a ser cantado em voz alta, com jogos de linguagem que tanto brincam com os sons – Ali há gato – como com a representação visual que fazemos das palavras – Ali há música, com uma maçã a ser servida num prato que mais parece um disco de vinil.
Percorre-se a distância entre o daqui e o ali, esbatem-se as fronteiras entre o longe e o perto, cabendo ao pequeno rebento furar uma máxima existencial de inspiração Shakespeariana: “Vou ou não? Eis a questão”. Aprende-se sobre a liberdade e faz-se a revolução, na transição de bebé para menino, festejando-se cada passo como se de um golo se tratasse.
Yara Kono serve-se de colagens, recortes, cores em abundância e espaços que ficam por pintar, tudo para nos trazer a animação e o rebuliço de uma família e nos mostrar o mundo dos adultos pelos olhos de um bebé que, daqui ali, se vai transformando.
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