Curtas da Estante é uma rubrica de divulgação do Deus Me Livro.
Retratos da Fundação
O Homem que Via no Escuro, A Lisboa de Bruno Candé | Catarina Reis
Bruno Candé foi a primeira pessoa em Portugal cuja morte resultou numa condenação de crime motivado por ódio racial. O homicida, de 76 anos, matou por preconceito contra a cor de pele. A justiça sentenciou que, a 25 de Julho de 2020, Candé, de 39 anos, actor, lisboeta, pai de três filhos, morreu por racismo: uma palavra em que ele não acreditava.
Este livro é um retrato de Bruno Candé, da sua vida e do seu legado para a família, para a cidade e para a Zona J (hoje Bairro do Condado), onde nasceu e cresceu e onde levou o teatro até outras crianças e jovens. Candé dizia que, tendo nascido ali, teria «tudo para dar errado». «Mas eu sou o Bruno Candé», repetia logo a seguir. Ele, um homem que via no escuro, para lá dos estigmas da pobreza e da discriminação racial.
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Catarina Reis nasceu em 1995, no Porto, e é jornalista. Foi no jornal «Público» que começou, como estagiária, em 2017. Entrou para o «Diário de Notícias» um ano depois, no qual escreveu sobretudo sobre a área da Educação e investigou sobre o antigo Casal Ventoso, trabalho que lhe valeu o Prémio Direitos Humanos & Integração da UNESCO. Em 2020, integrou a equipa fundadora do jornal digital e comunitário «Mensagem de Lisboa», no qual é repórter.
Jénifer, ou a Princesa da França, as ilhas (realmente) desconhecidas | de Joel Neto
Jénifer é uma criança em busca de uma saída e Joel um homem em busca de uma história. O encontro entre os dois dá-se num bairro social dos Açores, a região mais pobre de Portugal, terreno fértil para o abuso sexual e o incesto, o alcoolismo e a violência doméstica, a exclusão social, o tráfico de droga, o insucesso escolar, a pobreza persistente ou o suicídio jovem, entre tantos outros índices de subdesenvolvimento ocidental. Em fundo, uma pergunta: como poderá Jénifer transcender a miserável condição dos pais? Ela tem um plano.
Este é um retrato dos Açores ignorados, uma paisagem humana ausente das fotografias turísticas. É também uma tentativa de intervenção cívica de um homem só, pregando no deserto da escassez, da exclusão e do conformismo, e clamando por mudança.
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Joel Neto é autor dos romances «Arquipélago» e «Meridiano 28», bem como dos diários «A Vida no Campo», que lhe valeram o Grande Prémio APE. Nasceu na ilha Terceira, passou 20 anos em Lisboa – onde escreveu para quase todos os grandes jornais nacionais – e regressou aos Açores em 2012. Vive desde então no lugar dos Dois Caminhos, onde cuida de dois cães, um jardim e um pomar. É autor, entre outras, da coluna «Pai aos 50» (Notícias Magazine).
Viver Só | Ana Margarida Carvalho
Nunca como hoje houve tantos portugueses a viverem sozinhos, seja por opção, por deslocação em virtude de emprego ou estudo, por divórcio ou viuvez. Segundo o Censos provisório de 2021, são já mais de um milhão o número de pessoas nessa situação, o dobro de há 30 anos. A era da comunicação é, em simultâneo e paradoxalmente, a era da solidão.
Este livro é um retrato da solidão em Portugal em números, contexto e circunstâncias, mas também uma reflexão sobre o quanto viver sozinho é diferente de sentir-se sozinho. A experiência de solidão é tão individual e privada que se torna quase indefinível. Como se poderá ler em relatos de vidas solitárias expostas ao longo deste livro, viver só pode ser um privilégio, uma questão de liberdade irrenunciável ou uma dor profunda e irreversível. A solidão pode ser desde sempre ou para sempre.
Ana Margarida Carvalho nasceu em Lisboa, onde se licenciou em Direito e exerceu jornalismo durante 25 anos. Ocupou o cargo de Editora de Sociedade e de Grande-Repórter, fez crítica de Cinema, Crónica Semanal, fundou e geriu o site de Cinema Final Cut. Por diversas vezes foi jurada de concursos do ICA, entidade que financiou três guiões seus. Estreou-se como romancista com «Que Importa a Fúria do Mar» (Teorema) obra que conquistou por unanimidade o Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB2013. O segundo romance «Não Se Pode Morar nos Olhos de um Gato» (Teorema), finalista do Prémio Oceanos, venceu o Prémio Literário Manuel de Boaventura e, de novo, o Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB 2016, entrando assim no grupo estrito de romances portugueses duplamente distinguidos. «Pequenos Delírios Domésticos» (Relógio d’Água), coletânea de contos, obteve o Prémio de Conto e Novela Camilo Castelo Branco/APE. O mais recente romance «O Gesto que Fazemos para Proteger a Cabeça» (Relógio de Água) é candidato finalista do Prémio Oceanos. Publicou em julho 2021 um conjunto de contos sobre guerra: «Cartografias de Lugares Mal Situados». É autora do Podcast cultural Felicidade Interna Bruta, da Câmara Municipal de Lisboa.
Ensaios da Fundação
Mente, Cérebro e Educação | Joana Rato
Há cerca de uma década que se discute a ponte entre as neurociências, a psicologia e a educação e como torná-la mais robusta e sem risco de queda. O interesse dos professores em saber mais sobre o cérebro é enorme, bem como em compreender como as crianças e jovens aprendem e encontrar as práticas mais eficazes. Contudo, nas escolas, os neuromitos (crenças falsas) estão mais presentes do que os dados vindos da ciência e é notória a falta de estrutura e de mecanismos concretos que unam o conhecimento neurocientífico ao processo de aprendizagem.
Este ensaio enquadra o campo transdisciplinar Mente, Cérebro e Educação, descreve os seus fundamentos e os obstáculos que enfrenta e explica quão promissora pode ser esta interligação para os futuros desafios da educação.
Joana Rato é Professora Auxiliar no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa e investigadora integrada no Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde, onde dinamiza o grupo de trabalho Mente, Cérebro e Educação. É psicóloga da educação, doutorada em Ciências da Saúde e escreveu, em co-autoria, «Quando o Cérebro do Seu Filho Vai à Escola» (2017) e «Neuromitos» (2020). Tem aliado a investigação à divulgação da ciência transdisciplinar.
Sociedade de Consumo e Consumidores em Portugal | Mário Beja Santos
Portugal chegou tarde à sociedade de consumo, mas adoptou-a de forma inequívoca, assimétrica e concentrada na faixa litoral. Desde então, os portugueses aceitaram os benefícios de uma política de consumidores, mas sem se envolverem num movimento social com efectiva participação cívica: capaz, por exemplo, de questionar as decisões da União Europeia ou de responder às questões ambientais e de sustentabilidade.
Este ensaio contextualiza e traça o itinerário do consumidor português. Radiografa o presente e alerta para a transversalidade da chamada defesa do consumidor, que é muito mais do que a salvaguarda de direitos e se firma numa prática concreta de cidadania do consumo, em que os consumidores possam agir, entre a multiplicidade de parceiros, como um fio condutor do Bem comum.
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Mário Beja Santos trabalhou cerca de 40 anos na política dos consumidores. Além da actividade funcional, foi representante associativo, tendo exercido funções no Comité Consultivo dos Consumidores, na Comissão Europeia, e na direção da Associação Europeia de Consumidores. Foi autor de programas televisivos e radiofónicos, bem como de dezenas de trabalhos no campo específico do consumo.
Colabora frequentemente com a imprensa regional e blogues, e exerce benevolato com associações de consumidores, como seu representante. Desde 2006 que se dedica igualmente a estudos sobre a colónia da Guiné portuguesa e a vida política na Guiné-Bissau, temas sobre os quais publicou uma dezena de livros.
O Lixo em Portugal | Andreia Barbosa
O ser humano é, e sempre foi, fazedor de lixo. Mas o chamado lixo, e o destino que se lhe dá, mudou muito através dos tempos. Ele é matéria: extraída, transformada, desejada, usada, rejeitada; objecto de processos, tecnologias, políticas, mercados e culturas. Problema ambiental, desafio técnico ou riqueza potencial, espelha a sociedade.
As advertências de que há que reduzi-lo, reutilizá-lo e reciclá-lo não vão ao fundo da questão. Este livro, parte da história do lixo como problema coletivo de origem urbana para uma radiografia actual da produção nacional e economia do lixo, das instituições e processos o gerem e, perante a crise ecológica, das transformações que se anunciam. Para que nos apropriemos do nosso lixo, em vez de continuarmos somente a deitá-lo fora.
Andreia Barbosa é licenciada em Comunicação Social e com mestrado em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos, trabalhou como produtora de conteúdos para rádio e televisão, realizou documentários e escreveu argumentos de ficção. É membro fundador e vice-presidente da associação Circular Economy Portugal – CEP.
Editora: Fundação Francisco Manuel dos Santos
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