Curtas da Estante é uma rubrica de divulgação do Deus Me Livro.
Sobre os livros e os autores
“Ama o Precipício” | Susana Neves
Murado a toda a volta, o bosque dos Carmelitas Descalços, hoje Mata Nacional do Bussaco, mantém a inacessibilidade primordial, assente no amor ao precipício. Afinal, estes 105 hectares estão ainda protegidos pelo modo como aqueles monges enérgicos e pioneiros souberam potenciar as características naturais da serra desde que, em 1628, nela instalaram o seu Deserto ou eremitério. Este livro dá acesso a este bosque numa perspectiva etnobotânica, relacionando plantas e pessoas, desde a fundação do eremitério até à actualidade, passando pelo período conturbado da sua profanação no século XIX. Em destaque, algumas das espécies vegetais mais emblemáticas e a inscrição nesta paisagem de uma eloquente conjugação de ‘graça’ divina, ‘natureza’ e ‘arte’.
Susana Neves é escritora, jornalista de investigação na área cultural, investigadora de etnobotânica e fotógrafa de natureza, é autora dos livros «Histórias que Fugiram das Árvores», 2012, «De Vento em Pipa – Quando a Vinha e o Homem Inventaram Lagoa» (Best Wine Book of the Year, Gourmand Awards 2017) e «Rafael Bordalo Pinheiro – De Árvore em Punho», 2020. Os seus contos encontram-se publicados em revistas e antologias literárias, entre elas, «The Radiance of the Short Story: Fiction from around the globe», 2018.
“Mandem Saudades” | Mário Augusto
Sabia que o instrumento musical típico do Havai, o ukelele, é o cavaquinho alterado por madeirenses para ali emigrados? Ainda hoje essa herança e muitas outras tradições são acarinhadas por portugueses de terceira e quarta gerações que habitam aquelas ilhas. Este livro conta a história dos seus antepassados, cerca de 27 000 portugueses que, no final do século XIX e até 1913, fizeram uma longa rota de emigração para o meio do Pacífico.
Nesta debandada só iam os mais desesperados pela fome e pela miséria, os que nada deixavam para trás. Não podendo pagar de antemão a viagem, aguardava-os um contrato que os prenderia por longo tempo ao duro trabalho nos campos de cana-de-açúcar. Pelo caminho, morriam dezenas de homens, mulheres e crianças, e os que sobreviviam nunca mais esqueciam a terrível travessia. Foi uma diáspora sem retorno, a que este retrato presta hoje uma justa homenagem.
Mário Augusto nasceu em 1963 no lugar de Espinho, V. Nova de Gaia. Jornalista desde 1986, é autor e apresentador de vários programas nos canais SIC, TV Cine e RTP. Foi sub-director da RTP 3. Além da televisão, colabora em diversos jornais e revistas e é cronista de rádio, tendo desenvolvido grande parte da sua actividade profissional na divulgação e análise do cinema. Foi fundador da SIC, realizou vários documentários e argumentos para televisão. Pertence aos quadros da RTP. É autor de vários livros de cinema, «Janela Indiscreta» e «Como se fosse um romance», além de biografias de actores como Charlie Chaplin e Philip Seymor Hoffman.
“Ser Ator em Portugal” | Jacinto Lucas Pires
Quando se diz «actor», há quem oiça «astronauta». É o tipo de vocação que os adultos podem desmanchar com um sorriso condescendente. E, na verdade, para estes profissionais não existe um sistema claro de regras laborais e de segurança social, estabilidade, horizonte mínimo. Mas ser ator é, sobretudo, buscar coerência, autenticidade, aceitar a sala de ensaios como um campo de batalha onde tudo pode acontecer, subir ao palco, colocar-se sob os holofotes, para «estar com» e fazer acontecer um mistério de cada vez único e irrepetível.
Este é um livro escrito por um dramaturgo para dar a ver os «bastidores» da vida dos atores em Portugal. Foi composto a partir dos depoimentos de vários profissionais, que surgem como personagens sem nome, para representarem em conjunto um certo «ator desconhecido».
Jacinto Lucas Pires escreve romances, contos, peças de teatro, filmes, música. Em 2021, publicou «Doutor Doente» (Edições Húmus), uma coleção de contos. Também em 2021, a Escola do Largo levou à cena a sua peça, «Profecia do Princípio do Mundo», com encenação de Marcos Barbosa.
Recebeu o Prémio Europa-David Mourão-Ferreira (Univ. Bari/ IC, 2008) e o Grande Prémio de Literatura DST 2013 (com o romance «O verdadeiro ator»).
Editora: Fundação Francisco Manuel dos Santos
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