Curtas da Estante é uma rubrica de divulgação do Deus Me Livro.
Sobre o livro
Abraçar o desastre como ferramenta imprevisível da transformação interior. A santidade como destabilizador social e vertigem íntima. Aproximação ao outro pela queda.
In ‘Ensayos de Santidad’ (Sainthood Rehearsals or Sainthood Essays), Bonneville created an installation and a one-to-one performance for Matadero’s rooftop house. This work’s central figure – one who surpasses blood relations – was Goretti: a second mother, a guardian angel, a protector, an absolutely inescapable figure in Bonneville’s life and who, with one blow, opened the stagnant and stinking heart of a decrepit bourgeois home. Matadero’s rooftop house became an intimate space, a possible refuge from family homes – those haunted houses. It became a spatial, psychological and spiritual place where Bonneville hoped his visitors could use to awaken their undomesticated love, a place where they could be fragile and wounded, and where, together, they could take off together into a nameless night.
“vejo-te
desaparecer no reflexo
à minha procura na janela,
a acenar.
tenho medo de um último adeus.
vejo-te –
aceitas a maçã
experimentas muitas caras
és absolutamente perfeito –
vejo-te –
na luz que varia de quarto para quarto.
o diabo aplaude cada uma das nossas acções.
também deus se enternece com elas –
é assim que a luz varia.
não nos moldamos –
somos plantas nocturnas.
todo eu ainda teu
visto as calças e não as tiro.
desembrulho os papéis
preparo a tinta
deixo-me possuir
entre a promessa e a penitência
dedico-me à sobrevivência através da
imaginação.
porque é de dor que se trata quando o amor
fica suspenso.
colo-te ao corpo sem medo
por tempo definido
até apodrecer –
seria o meu acto de loucura
para satisfazer a normalidade do mundo –
tornar-me num apaixonante mendigo.”
Sobre o autor
M̶i̶g̶u̶e̶l̶ Bonneville nasceu no Porto, em 1985. Publicou em 2006 o seu primeiro livro de poemas: “Os diários de C.C. Rausch” (Corpos Editora). Seguiram-se: “Ensaios de santidade” (Sr Teste, 2021) e “O pessoal é político” (Douda Correria, 2021). Publicou ainda as edições de artista “Jérôme, Olivier et moi” (Homesession, 2008), “Notas de um primata suicida” (MB, 2017), “Dissecação de um cisne” (La Box/Teatro do Silêncio, 2018), “Lamento do ciborgue” (Teatro do Silêncio, 2021), “Recuperar o corpo” (Teatro do Silêncio, 2021) e “Câmara escura” (Teatro do Silêncio, 2022).
Editora: Sr. Teste
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