É, para aqueles que se interessam pela evolução cósmica, planetas distantes ou anéis, um dos mais fascinantes livros que poderão descobrir nas livrarias. Com o selo da Gradiva, editora pioneira na exploração literária do espaço, “Cosmos: Mundos Possíveis” (Gradiva, 2020) é como que a continuação de “Cosmos: Odisseia no Espaço”, série televisiva que conheceu duas versões: a original, de 1980, teve 13 episódios, e teve apresentação de Carl Sagan; a segunda, um remake da primeira, estreou em 2014, apresentada por Neil deGrasse Tyson e tendo, como produtores executivos, Seth MacFarlane e Ann Druyan, mulher de Sagan. Uma série que foi lançada dez anos após a morte de Sagan, e que demorou 6 anos a escrever e a produzir.
Um livro que começa com um par de questões que, tendo sido então lançadas em 2020 – ou uns anos valentes atrás, se incluirmos a série -, não tiveram ainda resposta prática: “Que poderemos fazer para evitar caminhar de olhos fechados para uma catástrofe ambiental ou nuclear, com efeitos irreversíveis e capaz de destruir a nossa civilização e inúmeras outras espécies? Como aprender a dar mais valor às coisas sem as quais não podemos viver – o ar, a água, aquilo de que é feita a vida sustentável na Terra, o futuro -, do que damos ao dinheiro e a meia dúzia de benefícios a curto prazo? Só um despertar espiritual global pode transformar-nos naquilo em que temos de tornar-nos”.
É um livro onde a ciência ganha a leveza da transcendência, e que começa por apresentar as regras capazes de, segundo Dryan, “abrir as cortinas de escuridão” que não nos deixam fruir de uma experiência completa da Natureza: “Testar as ideias por meio da experiência e da observação. Conservar apenas as que passarem o teste e construir novas ideias sobre elas. Rejeitar as que falharem. Aceitar os factos e as provas, levem onde levarem. E questionar tudo, incluindo a autoridade. Se obedecermos a estas regras, o cosmos abrir-se-á perante nós”.
A partir daqui, e numa edição acompanhada por fotografias, gráficos, projecções 3D ou imagens de radar, Anne Druyan estende ao leitor “uma escada até às estrelas”, onde tanto damos de caras com Espinosa, Einstein ou Hipócrates, mergulhamos na vida de Nikolai Vanilov, coleccionador intrépido de espécies de plantas nos cinco continentes, dançamos com as abelhas ou escapamos ao abraço mortal entre a ciência e o Estado. E, pelo caminho, aprendemos sobre muito do que está a ser feito para uma futura conquista do espaço, naquele que, caso as coisas corram pelo pior, será o tal Plano B que ainda não temos. Se nalgum ponto das vossas vidas sonharam com ser astronautas, este livro pode bem cumprir essa fantasia de criança.
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