Tillie Olsen (1912-2007) nasceu no Nebraska, filha de judeus russos que se refugiaram na América após o fracasso na revolução de 1905. Aos 15 anos abandonou a escola, sobrevivendo durante décadas em profissões precárias na indústria e na hotelaria, isto enquanto tratava de criar quatro filhas.
Começou desde muito cedo a envolver-se no activismo político – esteve mesmo presa por duas vezes, em 1932 e 1934 -, tendo sido perseguida no período do Macartismo pelo comité de actividades anti-americanas, acusada de ser uma agente de Estaline que pretendia subverter o sistema escolar de San Francisco.
Aos 87 anos, numa entrevista à revista The Progressive, nomeou as suas três grandes fontes de aprendizagem: a literatura, a experiência da maternidade e o activismo político. Tillie acreditava que o mundo poderia ser mudado “pelas pessoas que vivem num diálogo produtivo entre realidade e utopia”.
No campo da literatura, começou por ganhar notoriedade no início da década de 1930, com textos publicados nas revistas The New Republic e Partisan Review, onde retratava o seu envolvimento na onda de contestação que varreu a Califórnia e que contribuiu para o fortalecimento do movimento sindical. Passou várias décadas em silêncio, dedicada ao quotidiano familiar, apesar de em 1935 ter sido convidada a participar no American Writers Congress. Dessa experiência escreverá mais tarde sobre – do prefácio de Diana V. Almeida – “as estruturas de silenciamento que obliteraram as vozes das camadas sociais mais desfavorecidas, sobrecarregadas por um excesso de trabalho que as priva do direito básico à preguiça, onde poderá vir a fecundar o impulso criativo“. Recebeu as primeiras bolsas em meados dos anos 1950, colocando um ênfase nas políticas culturais feministas, tendo sido uma das fundadoras da editora Feminist Press.
“Conta-me uma adivinha” (Antígona, 2016), a obra mais famosa da autora lançada na recta final de 2016 pela refractária Antígona, reúne quatros contos que foram inicialmente pensados como capítulos de um romance, que nunca chegou a ver a luz da escrita ou da edição. Contos que apresentam um retrato das animadas décadas de 1950 a 1960 nos Estados Unidos, explorando os elos familiares e as relações que se estabelecem entre si.
Estou aqui a engomar revela uma mãe angustiada, imersa no espírito da Grande Depressão enquanto reflecte sobre a filha; em Eh, marujo compensa-se a solidão entre amigos de longa data e rodadas bem aviadas de Whisky; Oh, sim oferece a uma criança, perante o racismo e a segregação, nada mais do que a ilusão de um abraço; quanto a Conta-me uma adivinha está longe do espírito de “Amour” – filme de de Michael Haneke -, mostrando uma velha matriarca à beira da morte, a contas com o passado e com todos os fantasmas que a procuram. Um retrato da vida doméstica feito de poesia e a intensidade de um tremor de terra.
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