Junji Ito, um dos mais celebrados autores japoneses de mangá de terror, nasceu a 31 de Julho de 1963, na cidade de Gifu, Japão. Desde novo, abraçou como principais referências mestres como Kazuo Umezz, Hideshi Hino, Yasutaka Tsutsui e, numa outra geografia, o norte-americano H.P. Lovecraft. Várias das suas obras foram adaptadas para cinema ou televisão, com destaque para “Tomie”, que deu origem a uma longa-metragem realizada por Ataru Oikawa.
Nas suas histórias, que partem muitas vezes de acontecimentos banais ou episódios quotidianos, descobrem-se sentimentos capazes de provocar pele de galinha – compulsão irracional, mutilação humana ou seres arrancados às profundezas estão no denso menu de degustação -, aliados a uma certa crítica social que parece olhar para o cada vez mais inevitável desaparecimento do ser humano – pelo menos neste planeta.
“Coleção de Contos: Best of Best” (Devir, 2022), publicado pela Devir numa edição de grande formato que esconde um olho que tudo vê, reúne dez histórias com argumento e desenhos do autor, editadas em várias publicações no Japão entre 1997 e 2019. Os temas, sempre carregados de humor negro e a roer o osso de uma costela macabra, são variados.
Biliões Solitários abre as hostilidades como um claro manifesto de intenções: dois corpos são encontrados mortos, cozidos um ao outro, mostrando uma cara de espanto, olhos arregalados e bocas abertas, nas quais parecem faltar alguns dentes; O homem cadeira conta-nos a reconfortante história de uma escritora francesa e de um marinheiro que vivia dentro de uma poltrona; em Vénus invisível, o avistamento de um OVNI leva a que alguém se torne invisível, mas apenas junto de um pequeno grupo de amigos; A mulher lambedora parece ter saliva mais do que suficiente para uma morte por envenenamento colectiva; Mestre Kazuo Umezz e Eu é uma homenagem a um mestre, mas também a biografia parcial de infância e das leituras de Junji Ito, muitas delas patrocinadas pela sua irmã num lugar ao qual chegavam loucos livros; a partir do desvio do caminho da humanidade, Um outro amor neste Mundo eleva o engano amoroso a um novo patamar; Como o amor chegou ao coração do Professor Kirida apresenta-nos a um homem para quem o amor é uma das maiores fraudes – apenas a beleza existe; O mistério da falha de Amigara, pouco aconselhável para quem sofre de claustrofobia, tem lugar após um terramoto que expôs, numa montanha, milhares de buracos com formas humanas; o mistério arquitectónico faz parte de A tragédia do pilar principal; a fechar este recital macabro há O filho póstumo, um dos contos maiores desta colectânea, onde assistimos ao nascimento de um bebé da barriga de um cadáver… dez meses depois do seu enterro. Se gostam de terror, esta colectânea vale bem uma espreitadela.
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