No que diz respeito ao (e)terno combate entre Coelho VS. Macaco, a Porto Editora já nos habituou a publicar três de uma vez, o que por aqui é motivo triplo para fazer a festa. Com muita parvoíce e loucura pelo meio, Jamie Smart tem conduzido o leitor numa viagem através de uma floresta em perigo constante, seja pela maquinação humana ou, quase sempre, pelas artimanhas de um macaco hiperactivo com alma de destruidor de mundos, que bem tenta fazer da floresta comum o seu solitário reino.

“Começa um novo ano, e tudo corre bem na floresta”. Arranca assim a “Confusão do Multiverso” (Porto Editora, 2024), título do sétimo volume, mas desde cedo o macaco põe mãos à obra, tentando instalar a Macacolândia num lago congelado – já devem ter adivinhado o desfecho da coisa.
O aparente estado de graça termina quando surge um portal entre mundos, mostrando-nos um mundo oposto com as cores trocadas, um sistema de regras bem diferente e no qual o coelho, a raposa e o coelho são os vilões, quais piratas de pala no olho, estando a doninha confinada a um papel subserviente – invenções, nem vê-las. E o que dizer do Castro Ação, que estuda psicologia animal, ou do macaco que, por estas bandas, é um exímio criador de websites?
Atravessando várias dimensões – como aquela em que são todos bebés, cabendo ao coelho o papel de baby-sitter -, “Confusão no Multiverso” planta memórias, administra soro de morcego e coloca-nos perante a possibilidade do fim da própria existência, mas isto na floresta é exactamente como na vida: tudo está bem quando acaba bem – desde que não nos percamos na dimensão do… cocó.

A formação de equipas é o mote do arranque de “O Porco Impossível” (Porto Editora, 2024), mas quem se mostra pouco feliz com a sua é, claro, o macaco, que diz ter alguns elementos a menos – o que os obrigará a subir, pelo menos, 25% em malvadez, tudo para criar algum equilíbrio.
Naquele que é um dos mais castiços voluimes da colecção so far, não faltam motivos de interesse: uma troca a fazer lembrar o Face Off de John Woo; um animado concurso de bolos; mais uma série de invenções incríveis do Macaco – como o Gruntulac, uma criatura que dá puns com cheiro a couve, arrota ácido e deixa um rasto de muco cor-de-rosa; um retrato da inteligência como uma valente seca; ou Eva, à volta de questões filosóficas tão fundamentais quanto esta: “Para onde vai o sol à noite?”. Neste oitavo volume, que termina com um tremendo plot twist, conhecemos também a razão de todas as invenções da doninha terem um botão de auto-destruição.

A fechar este trio de publicações está “Coelhos Por Todo o Lado!” (Porto Editora, 2024), que abre com um novo ano onde todos fazem a mesma pergunta: onde está o macaco? Uma feliz ausência que dura pouco, até porque no centro deste volume está o amnésico coelho e as muitas tentativas para que este recupere a memória – incluindo um irresitível teatro de fantoches de múltiplas versões.
Como não podia deixar de ser Jamie Smart dispara em todas as direcções, mostrando-nos a meditação da raposa, uma lua a bater levemente na terra, uma galinha que prega a desgraça, um rato-toupeira pelado, um hámster tagarela, um peixe-bolha que dá puns, a crise de ideias da doninha, um tradutor de borboletas ou, novamente, Eva e as suas interrogações existenciais: “Estava a tentar descobrir o que segura o chão”, partilha connosco a certa altura.
O final, a fazer lembrar os faustosos banquetes de Asterix – com o macaco no lugar do músico amordaçado -, deixa a porta escancarada para o volume 10 – ou, se tivermos sorte, para os volumes 10, 11 e 12 de uma só vez.
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