Que livro é este? Uma narrativa de viagens? Um roteiro turístico? Uma biografia? Uma crónica? Alexandra Lucas Coelho presenteia-nos com uma obra híbrida, uma combinação de olhares e géneros, mapas de sentimentos e emoções, encontros e desencontros de baianos, amigos, personagens, artistas, verdadeiros artistas, sonoridades, ritmos e danças.
Revisitamos lugares onde já estivemos, personagens da ficção novelística, coronéis que marcaram presença nos ecrãs televisivos; recordamos o som da voz inconfundível de Caetano Veloso cantando a sua Bahia ou (con)vivemos com muitos nomes que habitam nos romances de Jorge Amado – tudo isto num só livro.
No final, a autora escreve: “Ao contrário dos meus livros de não-ficção, estas voltas não foram pensadas para escrever, nem anotadas (…) a ideia do livro não teria acontecido sem Caetano Veloso e as suas leituras“. “Cinco Voltas na Bahia e um Beijo para Caetano Veloso” (Caminho, 2019) é, assim, a resposta de Alexandra Lucas Coelho ao desafio de Caetano Veloso: dedicar um livro inteiro à Bahia, ao estado do nordeste brasileiro.
Falar da Bahia é falar de Salvador, a capital, “fundada em 1549, como São Salvador da Bahia de Todos-os-Santos, foi uma das primeiras urbes das Américas, primeira capital do Brasil (até perder para o Rio, em 1763), é a maior cidade do Nordeste, e a terceira maior do país”. Falar da Bahia é falar de Salvador, mas também do Recôncavo baiano – isto é, da região geográfica localizada em torno da Baía de Todos-os-Santos, envolvendo não só o litoral mas, também, toda a região do interior circundante à Baía.
Alexandra Lucas Coelho encanta-nos com “As cinco voltas na Bahia e um Beijo para Caetano Veloso”. Na sua companhia visitamos múltiplas igrejas, terreiros de candomblé e velhas bibliotecas, cruzamo-nos com o capitão da areia Pedro Bala, mergulhamos nas águas da praia de Itapuã, devoramos o delicioso acarajé ou acompanhamos os Filhos da Gandhy, facilmente reconhecidos pelo “turbante com uma faixa caída na nuca e o azul e branco das roupas”, no Largo de Pelourinho. O encantamento pela Bahia, esclarece a autora, iniciou-se “desde que comecei a ouvir Caetano, a Bahia pareceu-me um prodigioso, como os que imaginamos quando começamos a ler livros. Ele foi fazendo dela um lugar dos lugares, o lugar de Caymmi, de Jorge Amado, de João Gilberto, de Glauber Rocha. O lugar de Gil, de Gal, de Bethânia. O lugar de Mabel, Rodrigo, Roberto, Clara Irene, Nicinha, irmãos de sangue ou criação. O lugar de seu Zezinho e dona Canô, pai e mãe. Mas também dos filhos Moreno, Zeca e Tom, todos nascidos na Bahia”. O último volume de uma trilogia, de que fazem também parte os títulos “Vai, Brasil” e “Deus-dará“.
Alexandra Lucas Coelho é jornalista e escritora. Como repórter, primeiro na RDP, depois no “Público”, cobriu várias zonas de conflito, da ex-URSS à América Latina e ao Médio Oriente. Foi correspondente em Jerusalém e no Rio de Janeiro. Recebeu vários prémios de jornalismo e o Grande Prémio de Romance e Novela da APE.
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