A banda desenhada tem estado em alta no que diz respeito a lançamentos com o selo da Gradiva. Em poucos meses, a editora avançou com a publicação de três novas séries: Descobridores, que nos dá a conhecer a história de alguns aventureiros; Sabedoria dos Mitos, uma porta escancarada para o fascinante mundo da mitologia grega; e Eles fizeram História, biografias desenhadas que espremem a vida de algumas das mais marcantes personagens da História Universal, pelos melhores ou mais nefastos motivos.
Nesta última, depois do número inaugural dedicado a Lenine, seguiu-se a edição em dois álbuns dedicada a “Churchill” (Gradiva, 2019), personagem que imaginamos quase sempre de charuto aceso numa mão, um whisky duplo bem servido na outra e uma voz que, de tão pujante, não precisa do embalo de um microfone. Alguém que se veio a revelar um dos grandes estadistas do século XX, e que veio a ter um papel decisivo na vitória contra a Alemanha nazi, pela capacidade de mobilização, de resistência, de dizer não a um acordo de rendição que, na altura, muito bom inglês assinaria de olhos fechados – talvez por isso tenha ganho a alcunha de “Velho Leão”.
A viagem começa em 1880, no Castelo de Blenheim, apresentando-nos a John Curchill, “primeiro duque de Malborough, que derrotou as tropas de Luis XIV em Blenheim e em todos os locais em que as encontrou”. Com a mãe ausente, Churchill cresceu com o sonho de acompanhar o pai na Câmara dos Comuns, pai que o incentivou a seguir uma carreira militar, mexendo os cordelinhos para que tudo fosse levado a bom porto – uma vez que achava que o filho nunca iria dar um bom advogado ou político.
O álbum duplo acompanha a sua vida de militar nas Índias, o trabalho de jornalista na África do Sul, a paixão pela oratória que tomou de assaltou o Parlamento inglês, a sua dedicação à escrita que lhe acabaria de valer um Nobel da Literatura – nem só de Dylan se fazem os tiros ao lado – mas, sobretudo, o seu fabuloso jogo de cintura, fosse nas pastas ministeriais que assumiu durante quase trinta anos a partir de 1905 ou, sobretudo, quando assumiu as rédeas da governação britânica na tempestade da II Guerra Mundial. Um homem que tinha um talento especial para conquistar inimigos – que o viam como um narcisista e um oportunista patético e arrivista -, proporcional ao de fazer amigos ou forjar alianças improváveis.
As ilustrações encarnam bem esta revisitação histórica a um dos períodos mais acesos e decisivos da história mundial, dando a conhecer uma figura que, na altura de assumir os destinos da nação, disse qualquer coisa como isto: “Só tenho a oferecer sangue, dificuldades, lágrimas e suor”. Cada um dos volumes oferece ainda um dossier histórico, preparado por François Kersaudy, um dos maiores conhecedores de Churchill.
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