Composta por 12 volumes e publicada em Portugal com o selo da G. Floy, Tony Chu foi uma das mais irreverentes, estranhas, psicadélicas e delirantes séries do universo dos comics dos últimos anos. Com argumento de John Layman e arte de Rob Guillory, tinha como protagonista maior um agente federal cibopata, capaz de obter impressões psíquicas daquilo que comia, estivesse morto ou vivo. Agora, John Layman junta forças a Dan Boultwood e, dentro do mesmo universo, aponta os holofotes para Safron Chu, irmã mais velha de Tony, uma cibocomparte – traduzido para português corrente, significa que é capaz de descobrir os segredos das pessoas com quem partilha a mesma refeição (e ao mesmo tempo).
Em Entrada, a primeira de duas partes deste “Chu” (G. Floy, 2023), cabe a Colby, o parceiro desbocado de Tony, fazer uso do seu nem sempre evidente doutoramento em psiquiatria forense e psicologia criminal, a que se junta ainda uma licenciatura em criminologia, para tirar Saffron de maus lençóis, que se meteu numa alhada sabendo que tinha tudo para correr mal: “Há quem diria que aceitar um trabalho do segundo gangster mais poderoso da cidade para roubar o primeiro não é a coisa mais inteligente de se fazer”.
O leitor vê-se transformado para o seio de uma família com segredos para dar e vender, recuando na linha temporal até Ong Chu, o avô que, durante a II Guerra Mundial, matou os próprios camaradas para deitar mão ao ouro nazi. Não faltam as referencias ao universo de Tony Chu, como o frango contaminado que deu origem a uma pandemia de gripe das aves que poderia bem ter instituído o vegetarianismo para sempre – ou, pelo menos, o vegetarianismo com peixe.
Na segunda metade, intitulada Mau Vinho, recuamos ainda mais na linha cronológica, subindo a bordo de uma escuna comandada, 200 anos atrás, pelo infame e bebedolas Capitão Klemme, que mete água – literalmente – e acaba por ser o único sobrevivente de um erro de cálculo marítimo.
No tempo presente, e tendo como parceiro de crime o imprestável Eddie Molay, Saffron assiste à entrada em cena de Ortolan Palmoil, que quer correr com Eddie e tornar-se seu número 2, falando-lhe de uma missão que parece valer bem a pena: recuperar as garrafas de Chateaux Deveraux, Cabernet Camerois 108, que poderão valer milhões e estariam a bordo da tal escuna afundada por Klemme.
Um festival de cores vibrantes onde há muito humor, viagens no tempo e comidinha da boa. Um festim para os fãs de Tony Chu, que ficam desde já avisados: Saffron é a nova dona do pedaço.
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