“Carolina Beatriz Ângelo: Um Pequeno Grande Gesto de Coragem” (Imprensa Nacional (INCM) & Pato Lógico, 2021) é mais um título da colecção Grandes Vidas Portuguesas. Trata-se de uma biografia, dirigida aos leitores mais jovens, dedicada a uma mulher: Carolina Beatriz, médica e feminista portuguesa.
Foi a primeira mulher a votar em Portugal, por ocasião das eleições da Assembleia Constituinte, em 1911, aproveitando um lapso legal que existia na legislação eleitoral. Isto porque, à data das eleições, Carolina Beatriz Ângelo era já viúva e o código eleitoral dizia: “Podem votar todos os portugueses maiores de vinte e um anos, residentes em território nacional que saibam ler e escrever”, e que “sejam chefes de família”.
Será a primeira mulher a votar em Portugal e no sul da Europa, num gesto de coragem sem igual na sua época. No entanto, para evitar a repetição de situações idênticas, a lei do código eleitoral português foi alterada no ano seguinte, com a especificação de que apenas os chefes de família do sexo masculino poderiam exercer o seu direito de voto.
Carla Maia de Almeida, autora do texto, conta-nos a história desta sufragista militante pela voz de uma menina chamada Carolina que, inspirada por outros exemplos de mulheres corajosas como a americana Rosa Parks, escolheu como tema para um trabalho da escola a vida da portuguesa que se tornou um símbolo da luta pelos direitos das mulheres.
Num trabalho de pesquisa, motivado por algumas informações que o avô lhe ia dando, Carolina descobre a importância da palavra feminista, tendo encontrado esta definição no dicionário: “Feminista: pessoa que apoia ativamente os direitos das mulheres à igualdade social e política – e aqui fez uma pausa para pensar. – Há outras definições possíveis, mas esta diz o essencial”. Para além da definição foi descobrindo outras feministas portuguesas, como Adelaide Cabete e Ana de Castro Osório, que juntas fundaram o Grupo Português de estudos Feministas, em 1907 – e que mais tarde deu origem à Liga Republicana das Mulheres Portuguesas.
Carolina Beatriz Ângelo nasceu numa família informada e progressista. “Depois de terminado o ensino secundário no liceu da Guarda, Carolina foi estudar para Lisboa. Em 1902, concluiu a formação superior na escola Médico-Cirúrgica. Acabou por dedicar-se à ginecologia, um ramo pouco desenvolvido da medicina a que na época chamava, «as doenças de senhoras». Mesmo quando se envolveu na política e militou na causa republicana, foi médica até morrer”. Faleceu aos 33 anos, a 3 de Outubro de 1911, e nunca chegou a assistir às mudanças na lei que, pouco a pouco, foram permitindo o voto às mulheres até à abolição de todas as restrições, só conseguida após a Revolução de 25 de Abril de 1974.
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