Ralph Lazar já antes passou por aqui com Puto Detetive. Uma série servida em lombadas coloridas, num casamento perfeito entre texto e ilustrações, protagonizada por uma dupla de catraios algo disfuncional que, por acaso ou nem por isso, vai subindo posições no ranking amador dos detectives de topo, ganhando reputação e estima numa escola onde nem sempre é fácil sobreviver. Quanto às ilustrações, o preto surgia como cor dominante, bem ladeada pelo cinzento e o branco que, por vezes, parecia querer tirar uma radiografia urbana nesta história com sentido de humor sobre um jovem em busca do seu caminho, lidando com as muitas agruras da vida.
Agora, com selo da Nuvem de Letras, Lazar está de regresso às livrarias portuguesas com Caos Total, uma série que irá percorrer o calendário semanal e que, até ao momento, conta já com dois volumes publicados: “Segunda-Feira: Na Caverna dos Ladrões” (Nuvem de Letras, 2024) e “Terça-Feira: A Maldição das Manchas Azuis” (Nuvem de Letras, 2024).
“Segunda-Feira: Na Caverna dos Ladrões” começa desde logo com um sério aviso: “Isto não é um livro normal. Está cheio de coisas malucas. E de perigos. Estás avisado”. Ainda na abertura, o pequeno leitor poderá ler algumas notas sobre o prendado Almanaque disponível no final do livro, bem como uma ficha personalizada sobre Dário, o protagonista de ar sério que não tem vida fácil. Quem teria, afinal, se fosse obrigado a começar o dia com uma Aula de Vegetais onde se fala em… brocolês?
Neste primeiro volume, é tempo de conhecermos os inimigos mortais de Dário: um grupo de vigaristas-guerreiros que parecem miniaturas eléctricas e o Gato-Diabo de duas caudas. E de entrar na escola de Dario, onde o pequeno herói enfrenta diariamente inúmeras Situações de Caos Total, como o desaparecimento de um troféu de Campeão do Mundo de Bola-Saltadora, de uma cenoura vitaminada ou do frasco de perfume mais caro do mundo. A ajudá-lo – e a desorientá-lo – há uma rede de túneis secretos, muita matemática ou um laboratório de Ciências com a forma de uma banana.
“Terça-Feira: A Maldição das Manchas Azuis” mantém os grandes inícios de Lazar, desta vez com um prefácio esquemático muito original, com conselhos sobre comida, piadas para ter à mão e outras dicas que poderão dar jeito quando menos se espera.
Para Dario, o dia começa sempre com um pequeno-almoço de campeões, desta vez com couve torrada e leite de morsa, e nem os vigaristas-leitores-de-mentes ou os javalis-rosnadores-de-jato-portatil lhe conseguem roubar o apetite.
Na Escola Básica de Sapãobola, “a melhor escola do mundo” segundo Dário, há daqueles professores que a memória não conseguirá apagar nem três décadas depois. Tais como a professora Zuan, que venceu o Campeonato do Mundo de Caretas em 1972. Por falar em caretas, são as finais do Campeonato do Mundo que alimentam este segundo volume de Caos Total, onde os alunos vão treinando manobras tão arriscadas quanto a Carantonha Total com Duplo Esgar ou o Queixo Caído Vibrante com Olhos Revirados.
A equipa de Dário é a favorita mas, quando todos começam a ficar com manchas azuis na cara – que limitam seriamente o jogo de franzir e dão uma comichão danada -, Dário terá de partir para uma investigação a solo, ou a Taça já era.
Ainda que alguns furos abaixo de Puto Detetive, Caos Total parece ser série para acompanhar até Domingo, sobretudo quando a terça-feira foi um dia bem melhor que a segunda – na verdade é quase sempre assim. Continuaremos de olho em Ralph Lazar, aguardando as Situações de Caos Total preparadas para Quarta-Feira.
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