Manuela Castro Neves foi professora do 1.º ciclo do ensino básico durante mais de quarenta anos, tendo arrecadado uma larga experiência de trabalho com crianças de meios sócio-culturais heterogéneos. Actualmente dá apoio pedagógico a alunos que, por diversas razões, se atrasam no seu percurso escolar, trabalhando numa visão empática e sempre actual dos métodos pedagógicos para benefício dos que mais dele precisam. “Caderno A4” (Kalandraka, 2023) apresenta-nos um conjunto de textos curtos, que relatam episódios vividos com crianças entre os quatro e os dez anos de idade que ocorreram em sessões de apoio individualizado, ou em encontros com os seus leitores – quer em escolas, quer em bibliotecas. «Histórias» que resultam de uma “escuta atenta à voz das crianças e da valorização das suas opiniões, interrogações e descobertas”, e que devem ser lidas e reflectidas por pais, educadores, professores e por todos aqueles que se interessam por dar voz às crianças e se preocupam com o acto de escutar.
Nestas «histórias», há protagonistas invisíveis – os docentes – e visíveis – os alunos. Os primeiros surgem de forma imperceptível, mas fazem parte da história. Os segundos dão significado e singularidade a estas «histórias» e são, sem dúvida, os que desempenham o papel principal. Ao leitor é dado a conhecer alguns destes alunos, assim como os seus percursos de aprendizagem. Nem sempre lineares, muito pelo contrário. São percursos cruzados, problemáticos, questionáveis e embaraçados. Como ajudar estes jovens? Não basta explicar – e voltar a explicar – os conteúdos. Não os podemos abandonar ou ignorar. Compreender os problemas, identificar obstáculos, fazer do pouco muito, envolver efectivamente a criança nas aprendizagens apresentando-lhe soluções diferenciadoras, reforçando exíguos avanços e fazendo do erro uma oportunidade para alcançar sucesso – talvez estas sejam boas opções.
Manuela Castro Neves mostra ao leitor como, nas aulas de apoio pedagógico, fazer uso destas estratégias. Contudo, não basta aplicá-las; é necessária disponibilidade para abraçar cada situação, cada menino, para o escutar, mesmo quando o silêncio impera ou as palavras são imprecisas, não esquecendo que é necessário tempo, esse bem cada vez mais escasso nas nossas vidas e nas aprendizagens.
Urge um tempo para: Ler. Escrever e reescrever. Desenhar e imaginar. Respeitar ritmos diferentes Ensinar. Aprender. Pensar. Crescer. Partilhar. Dialogar e, essencialmente, um tempo para escutar. Só assim se poderá orientar, educar, amparar e apoiar.
Este não é um livro de histórias, apesar de nos contar muitas histórias. Este não é um livro de empatia, apesar de nele habitar muita empatia. Este é não é um livro de pedagogia, apesar de falar de pedagogia. Este é um livro que dá voz à criança, e que a coloca no centro da aprendizagem. Este é um livro que nos provoca e inquieta. Este é um livro que obriga os educadores a repensar as suas práticas. Este é um livro que evidencia as qualidades do movimento da Escola Moderna. Este é um livro sensível, emotivo, sedutor e genuíno. Este é um livro que todos os que trabalham com crianças vão querer ler.
1 Commentário
Um livro que nos ficará para sempre. Maravilhoso.