Se esta amostra do fim do mundo não nos tivesse vindo trocar as voltas, por estes dias estaríamos a fazer as malas e a meter-nos à estrada rumo a Cem Soldos, aldeia que recebe, desde o ano de 2006, um dos mais entusiasmantes festivais de música portugueses.
Uma boa forma de matar saudades neste hiato obrigatório será juntar, à biblioteca caseira, o livro “Bons Sons x 10: Uma Aldeia em Manifesto” (Edições Escafandro, 2019), uma edição em capa dura e com o formato de um mini-álbum de banda desenhada que celebra a preceito as 10 edições do festival, que decorreram num período temporal de 13 anos.
“Este livro é uma Festa, quem diz o contrário é tolo”. As palavras certeiras são de Luís Sousa Ferreira, um dos mais influentes programadores culturais em Portugal – dirige actualmente o 23 Milhas, onde dinamiza a oferta cultural do município de Ílhavo -, que foi o rosto principal – e director artístico – do Bons Sons durante estas dez edições, até à passagem de testemunho feita a Miguel Atalaia.
Um evento que nasceu no ano de 2006, decidido a celebrar em grande os 25 anos da colectividade local de Cem Soldos, e que foi ao encontro de criar “um festival de música portuguesa virado para o exterior, para um público exigente”. E se, na primeira edição a festa se fez com 15000 espectadores, 12 actuações, 3 palcos e 3 dias, a edição de 2019 contou já com 35000 espectadores, 60 actuações, 10 palcos e 4 dias.
Projecto comunitário que merece ser levado ao colo, o Bons Sons tem sabido crescer de forma sustentável, atento ao que pode ser melhorado de ano para ano, sempre na promoção do respeito pelos habitantes da aldeia – dos seus lugares, ritmos e hábitos quotidianos. Um respeito que salta à vista, numa mescla geracional e de geografias que faz com que o país inteiro pareça caber dentro desta aldeia irredutível, por onde passeiam bebés ainda longe de sonharem com a primeira palavra, idosos que vão fintando com estilo o horizonte, crianças que trocam a tecnologia pelos divertidos Jogos do Helder, gente que pôs o mundo em pausa e decidiu mostrar-se disponível para a interacção humana.
Seguindo a linha cronológica, acompanhamos a evolução do Bons Sons e todas as suas mudanças e acrescentos ao longo dos anos, ficando também a conhecer um pouco da aldeia e da comunidade que ergue com orgulho este festival. Apresentam-se os alinhamentos e destacam-se alguns dos artistas que passaram por Cem Soldos, tudo com textos sumarentos e biografias resumidas, servidas com ilustrações coloridas e variações de cor que vão fazendo pendant com as cores predominantes dos cartazes de cada edição.
Há ainda um jogo onde, no lugar do Wally, se desafia o leitor a descobrir onde se esconde a Tixa, a mascote do Bons Sons, bem como 50 bandas e artistas que durante estes 15 anos actuaram em Cem Soldos. Uma aldeia empenhada em surpreender a cada ano que passa, disponível para dar algo de si e receber, em troca e merecidamente, tudo de nós.
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