Para quem, como este escriba, se aventurar a começar “Blue Exorcist” (Devir, 2018) pelo número 17, poderá contar com uma introdução a preceito, que fará com que deixe de se sentir às aranhas. Uma intro onde se fala de protecção divina, possessões e onde se lança um aviso à pequenada: “Este volume começa a contar a parte intermédia do passado de Shura. Ela é adulta, por isso incluí vários temas para adultos. Os leitores mais novos podem nem sempre apanhar o enredo…mas vão perceber quando forem mais velhos”.
Em primeiro lugar, há que perceber como podem entrar os demónios entrar no mundo físico: possuindo um objecto, parasitando um objecto ou penetrando num cérebro humano. Quanto ao que aconteceu nos 16 volumes anteriores, resume-se mais ou menos assim: após uma discussão com o Padre Fujimoto, o seu pai adoptivo, Rin Okumura fica a saber que o seu verdadeiro pai é Satã, de quem herdou o poder que mal consegue controlar – e que faz com que tenha sangue humano e de demónio a correr-lhe nas veias. Após o assassinato de Fujimoto, Rin decide tornar-se exorcista, para um dia poder matar o seu pai. Yukio, o seu irmão gémeo, já é exorcista – mas espera ser médico -, e responsável pelo Curso Intensivo de Exorcismo. Acontecimentos estranhos estão a acontecer um pouco por todo o mundo, todos com o dedo de uma sociedade secreta designada por Illuminati – Shima é um dos seus espiões, um agente duplo sob as ordens de Mefisto. Shura, uma investigadora especial de alta patente enviada pelo Quartel-General do Vaticano para a Academia da Verdadeira Cruz, está desaparecida, e Mefisto ordena aos irmãos que vão à sua procura.
A primeira pista surge quando um tipo lhes diz ter dado boleia a uma rapariga até perto do Lago Towada. Rin está em delírio com a missão, ao contrário de Yukio, que começa a desorientar-se quando a dona da estalagem onde ficam hospedados pensa que são um casal de gays – até lhes faz as camas pertinho uma da outra.
Será neste volume que iremos conhecer a promessa feita por Shura a Hachirotaro Okami, o Deus-Dragão que domina a região em torno de Towada, e que implica uma morte precoce e a obrigação de deixar descendência. Isto porque, 18 anos antes, os Cavaleiros da Verdadeira Cruz receberam um pedido para exorcizar um tumulto de Baba Yaga nas imediações do Lago. Nessa altura, Shura era muito pequena e foi salva pelo Padre Fujimoto, tendo-se tornado sua aprendiz, mas não sem antes forjar um pacto. Caberá a Yukio e Rin a missão hercúlea de tentar fintar o destino, num livro que acaba em altas com a preparação de uma fogueira de Satã. Demónios e exorcismos, numa história de amizade escrita com muito humor e ainda mais classe por Kazue Kato. Mesmo sem coelhos por perto.
Kazue Kato nasceu em Tóquio a 20 de Julho de 1980. No ano 2000, com 19 anos, ganhou o prestigiado Prémio Tezuka pelo seu trabalho Boku to Usagi (Coelho e Eu), posteriormente publicado na Akamaru Jump. De 2005 a 2006, a sua série Robo to Usakichi, uma aventura de ficção científica em que entra um coelho (novamente) foi publicada pela revista mensal Shonen Sirius. A sua série mais recente, Blue Exorcist, iniciou-se na Jump Square de Abril de 2009. Kazue Kato tem usado um coelho como auto-retrato nas suas notas de autor desde o início, e as suas obras têm com frequência algo a ver com coelhos.
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