Big Nate é uma série de tiras cómicas assinada pelo americano Lincoln Peirce, que já as desenha há para lá de três décadas. Nascido no Iowa, Peirce cresceu em New Hampshire, nos Estados Unidos, tendo começado a criar as suas próprias tiras de banda desenhada ainda em miúdo. Foi professor do ensino básico em Nova Iorque, e criou também vários episódios-piloto de desenhos animados para os canais Cartoon Network e Nickelodeon.
Com o selo da Nuvem de Letras, estão agora disponíveis nas livrarias nacionais dois álbuns de tiras cómicas que têm, como protagonista maior, o pequeno Nate Wright, um puto com onze anos, metro e meio de altura e que é, certamente, o recordista de todos os tempos no que diz respeito a castigos escolares. Nada que o impeça de sonhar alto, ou de manter uma confiança inabalável num estilo que, seja no vestuário ou nas relações pessoais, nem sempre é o mais indicado.
“Na Maior” (Nuvem de Letras, 2020) é um belo cartão-de-visita ao mundo de Big Nate, reunindo tiras publicadas em jornais entre 28 de Agosto de 2006 e 1 de Abril de 2007. Aqui ficamos a conhecer o pai de Nate, que não confia no filho nem sequer para comprar os próprios jeans, mesmo que o seu gosto seja no mínimo duvidoso – insiste num castanho com muito pouca ganga e torce o nariz a tudo o que tenha rasgões.
Em véspera do regresso às aulas dominam os pesadelos e algumas alucinações – sobretudo com a professora Godfrey -, mas cedo Nate apanha o ritmo e ganha embalo, seja para falar do flop das leituras de Verão, de descobrir a melhor pose para a fotografia de turma, do estilo mauzão que adopta para conquistar – pensa ele – as babes da turma, de traçar a melhor rota de fuga ao bully Chester – de quem só vemos os balões de voz furiosos ou umas manápulas gigantes -, da sua devoção a uma banda desenhada chamada Femme Fatality – que conta com grande popularidade entre o público masculino, pai de Nate incluído –, de aprender truques de fotografia com o fotógrafo da escola – que ainda vive com a mãe – ou para trazer ao de cima os traumas guardados a sete chaves pelos seus professores.
“Alto e Bom Som” (Nuvem de Letras, 2020) compila tiras publicadas entre 2 de Abril de 2007 e 4 de Novembro de 2007, e começa por nos mostrar Nate no papel de influencer – ou, melhor dizendo, de definidor de tendências. É neste volume que damos conta do pouco jeito do seu pai para o baseball – ou para qualquer outro desporto -, que Nate se vê encostado à parede pela professora Godfrey por ser tão desarrumado – e que à conta de um bem-sucedido hipnotismo o irá transformar no tipo mais asseado da escola -, ou que acompanhamos o petiz no papel de treinador do pai que, numa espécie de crise de meia idade, meteu na cabeça de que é capaz de correr 10 km de uma só vez.
É também neste volume que começamos a conhecer um pouco mais sobre os professores de Nate: a professora Czerwicki, que lê romances de cordel e que, se lhe derem corda, é capaz de falar durante horas – sobretudo se o tema tiver a ver com amores; o professor de Ciências, Gavin, a quem Nate tenta sem grande sucesso arrancar uma gargalhada; o paciente e barrigudo director Nichols; ou o professor Jorge, que transforma as aulas de educação física num campo militar. Nota máxima para Nate Wright, por nos fazer regressar aos tempos de escola, aos amores não correspondidos e à intragável comida do refeitório.
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