É uma daquelas séries que, tal como acontece com o universo familiar do Tio Patinhas, parece ter conseguido parar o tempo – ou, pelo menos, fazê-lo passar a uma velocidade apenas ao alcance das personagens dos livros aos quadradinhos ou servidos às tiras.
Nascida no ano de 1990, a tira cómica Baby Blues inspirou-se originalmente no dia a dia de Rick Kirkman (desenhos) e da sua família, em particular nas aventuras e desventuras vividas após o nascimento da segunda filha. Um processo criativo que Rick via como uma catarse. Três anos mais tarde, Jerry Scott (textos) e a mulher deram as boas-vindas à primogénita, e pode dizer-se que a produção da dupla não parou de aumentar. “Vá para fora cá dentro” (Bizâncio, 2020), lançado originalmente em 2019, é já o 37º álbum e, ainda que algumas piadas nos pareçam já ter sido contadas como aquelas histórias familiares repetidas e perpetuadas durante décadas, continua a ser uma deliciosa acompanhar a tortuosa vida deste casal, amarrado a três filhos com dotes de pirotecnia – e que sonham com uma outra vida onde haja espaço pessoal, férias tranquilas, noites de sono e tudo aquilo que a paternidade lhes parece ter tirado.
Hamie continua a ser o rei indiscutível e, neste volume 37, mantém a sua aversão a uma higiene regular, assistindo ao despertar o desejo de se tornar um grande baterista, passando a comunicar apenas por emojis, descobrindo Star Wars para se tornar Ham Solo e, como leitura para férias, ter por companhia obras tão importantes da literatura quanto “O Grande Livro dos Macacos do Nariz”, “Evitar Legumes” ou “Criação de Roedores”.
Entre muitos guinchos, Wren aprende a contar usando os pêlos do nariz do pai e, quanto a Zoe, decobrindo que as amigas têm coisas bem mais fixes do que ela, faz uma declaração oficial: “O meu afecto está oficialmente à venda”. Isto para não falar do seu guarda-roupa, que considera “demasiado acalçado”, “demasiado emblusado” ou “demasiado acamisolado”.
Quanto aos graúdos, vão ao cinema pagar 7 euros por uma soneca, partilham memória felizes ou perdem-se em sonhos de remodelação, num livro que percorre uma volta ao planeta e datas mais ou menos festivas como o Dia de Acção de Graças – e um peru difícil de descongelar -, o Natal ou o Halloween. Continua a ser divertido visitar este mundo onde o tempo (quase) parou.
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