Depois de nos terem mostrado o universo de Descender, uma série de 32 números compilados em seis volumes de capa dura que levou para casa uma série de prémios, Jeff Lemire (argumento) e Dustin Nguyen (ilustrações) oferecem-nos agora, uma década depois dos acontecimentos, uma nova série, onde o mundo está virado do avesso depois de a magia ter destronado as máquinas e mudado todas as regras. Após um primeiro volume que nos fez acreditar que esta nova série tinha pernas para andar, a boa confirmação chega agora com “O Mar dos Mortos” (G. Floy, 2022).
Telma vê-se agora a desempenhar o papel de mãe, não deixando contudo de viver em estado de fuga permanente; Andy, que parecia ter escapado à morte certa, está a minutos de acabar como comida em prato alheio, num mundo que parece sacado a papel quase químico de Mordor do Senhor dos Anéis; quanto a Bandit, parece ter encontrado um mapa importante mas a que ninguém consegue dar uso.
Quando se vê no fundo das águas, atacada por uns impressionantes baleomens que a querem enfiar na garganta de um tubarão, Telma dá por si a recordar grande parte do seu passado, desde o segundo ataque dos Colectores à amizade travada com Helda, oito anos atrás, nos campos de sobreviventes de Niyra.
Um volume onde há sacrifícios vários, se descobrem algumas verdades sobre a CGU, se conhece de perto a temível Mãe e o seu Conventículo ou se dá de caras com um sucateiro que poderia pertencer a uma banda hardcore e onde, a juntar a mais um final que deixará o leitor a chorar pelo volume 3, há mantras tão porreiros quanto “agora navegamos. Primeiro, o mar. Depois as estrelas” ou “Indo para trás é que chegamos à frente”.
As ilustrações de Dustin Nguyen estão ainda mais incríveis, recriando de forma sublime ambientes mais ou menos luminosos, nos quais os laranjas fogo cedem, quando a história manda, o palco a cores mais tenebrosas e inquietantes.
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