Podíamos ficar ali, desde logo, nas guardas. Elas costumam antecipar o que dentro vai. Houvesse coisa esperada, estes dois livros tomavam uma forma de luz.
“Às vezes o bosque…” (Akiara, 2023) é uma garatuja que o caracol marcou no pedaço côncavo de uma telha encontrada por acidente. É um adágio que recorda com seriedade as piruetas dos dias comuns. Um talvez sim, talvez não, veremos. É um Oh! sincronizado pela flagrante perfeição de uma magnética aurora de pirilampos. São joelhos esfolados, é caminho e caminhar, a compasso de perguntas nascidas sem pressa de crescer. É um sopro de comoção que reclama a simplicidade de observar.
“Redescobrir o Mundo” (Akiara, 2023) é reconhecer a circularidade do essencial: noves fora nada. É participar no prodígio de cada momento: aqui e agora. É ver para lá do evidente: o prémio de ser. É dançar que nem abelhas-de-mel, localizar prodigiosamente qual quebra-nozes, é avisar como as baleias, proteger sendo floresta subterrânea e recordar a sombra, beijando o céu.
Estes dois livros, que inauguram a colecção Akiwow da Akiara books, são um caleidoscópio possibilista. Contam sobre cooperação, inteligência vital, humildade, aventura. Gritam urgência e sustentabilidade, atraem deslumbramento, expandem esperança, respeito, integridade, são vestígios do invisível, mensageiros do extraordinário rasto da presença. Podíamos escolher ficar aqui. Deixar-nos ir, quando quiséssemos: “A magia existe e [chama-se] vida”.
Alex Nogués nasceu em Barcelona, em 1976, e vive na Catalunha. Apaixonado pela linguagem das rochas e rendido ao fascínio das águas subterrâneas, formou-se em geologia e paleantologia. Sente-se afortunado por poder sair todos os dias para a natureza, aprender com ela, converter as ideias em livro e partilhar com um bosque de gente.
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Ina Hristova nasceu na Bulgária, em 1988, e vive no México. Dedicou-se à ilustração de livros por reconhecer-se conjugada na infância. Os livros continuam a maravilhá-la e também por via deles aprende e cresce.
Jordi Pigem nasceu em Barcelona, em 1964. Perguntador desde que se lembra decidiu, mais tarde, doutorar-se em Filosofia e partilhar aprendizagens enquanto professor de Filosofia da Ciência, em Inglaterra. Explorar a multitude de prismas da realidade ensinou-lhe que um dos requisitos fundamentais da vida nesta Terra é o acto de desaprender para voltar a encantarmo-nos pelo mundo.
Neus Caamano nasceu em Terradelles, na Catalunha, em 1984. Desenhar, pintar, recortar, sempre foram das suas coisas favoritas. Formou-se em Belas-Artes e diariamente ciranda pelos lugares, experimenta pensamentos e imagens, recorta-os, apaga-os, redesenha-os, fascinada pela esquina do encontro com o álbum ilustrado.
A tradução de ambos os livros é de Catarina Sacramento. Nasceu em 1977 e três das suas geografias são Leiria, Lisboa e Macau. Confessa que desde que aprendeu a ler que não faz outra coisa. Ciências da Comunicação e Jornalismo foram caminhos feitos antes de mudar-se para o mundo dos livros, onde é caçadora de erros e snipper de gralha
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