A primeira coisa que salta à vista ao abrir-se “As Novas Aventuras de Bruno Brazil: Black Program” (Gradiva, 2020), será muito provavelmente a fonte de letra escolhida, que parece funcionar como uma cápsula de tempo para uma outra era da Banda Desenhada – e com os énes ao contrário à moda do braileiro Liedson. O que não é de estranhar, uma vez que a última vez que Bruno Brazil havia entrado em acção havia sido há qualquer coisa como 43 anos.
A criação de Bruno Brazil contou com o dedo de Michel Greg – que usou o pseudónimo Louis Albert – e William Vance, estávamos então no ano de 1967, tendo a estreia acontecido na reputada revista belga Tintin. Um herói claramente inspirado na personagem fleminguiana de James Bond e que, depois de uma temporada a solo, veio a tornar-se líder da Brigada Caimão, numa história que conheceu grande sucesso – até que os seus criadores decidiram antecipar um tipo chamado George R.R, Martin, desatando a tratar do sebo a alguns dos seus protagonistas. Ao todo, Bruno Brazil esteve em alta durante uma década e dez álbuns – além de um álbum “póstumo” que surgiu duas décadas mais tarde.
O primeiro volume de As Novas Aventuras de Bruno Brazil nasce do trabalho de equipa de LF Bollée (texto), Philippe Aymond (desenho) e Didier Ray (cor), levando-nos a reencontrar os membros da Brigada Caimão, cada um deles mergulhado num trauma de todo o tamanho.
Apesar dos muitos cabelos brancos, Bruno Brazil parece não ter perdido a pontaria certeira, ainda que não passe sem as suas consultas de terapia, onde fala das mortes que atravessaram a sua vida – uma delas a do seu irmão Billy.
Nesta nova/velha vida, Bruno e companhia terão em mãos uma missão tripla: capturar o assassino de Madison Ottoman, “um dos homens mais ricos do mundo, o antigo grande satã dos Estados Unidos”; descobrir quem tirou da prisão uma babe de nome Rebelle, qualquer coisa como a sua inimiga de estimação; e, last but not least, descobrir o paradeiro de Allan Wordling, um engenheiro aeronáutico da NASA, com um “perfil puro e duro de cientista, um crânio atafulhado de fórmulas matemáticas”, que se tinha voluntariado para uma experiência de um método revolucionário de “injecção de informações no ADN” – e que tem consigo informação demasiado sensível, como se costuma dizer no mundo da espionagem.
O final é tão generalíssimo e imprevisível que leva Bruno a arregalar os olhos, soltando um desbocado “Como?”. Sem descolar da série original, o trio leva o leitor numa viagem nostálgica ao passado, numa combinação entre acção e violência que continua a cumprir bem o seu papel de entretenimento. Nem a depressão pára este Bruno Brazil.
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