Seria bom afirmar que “As Mulheres da Orquestra Vermelha” (Harper Collins, 2020), o mais recente e distópico romance de Jennifer Chiaverini, se baseia única e exclusivamente na imaginação prodigiosa da autora. Que todo o horror nele retratado não faz parte de um passado demasiado recente, com o qual o mundo pouco aprendeu e que parece estar rapidamente a cair nas brumas da memória, levando à assustadora probabilidade de que se volte a repetir mais depressa do que pensamos.
Aqui conhecemos uma Alemanha desfeita pela I Guerra Mundial, as humilhantes condições do Tratado de Versalhes e a Grande Depressão, que irão precipitar a queda da República de Weimar e a ascensão meteórica de Adolf Hitler – de líder de um partido menor da oposição até à quase concretização dos seus delírios napoleónicos. Por entre uma sucessão de enganos, censura e propaganda sensacionalista, a ditadura impõe-se e o povo alemão tenta sobreviver, impotente, enquanto uma Europa assiste indiferente numa neutralidade cautelosa.
É no meio do caos que um grupo de académicos, economistas, actores, dramaturgos, escritores e tradutores decide abraçar a missão de resistir ao Reich, enfrentando a censura e pondo em perigo as próprias vidas, para abrir os olhos do mundo para os horrores sofridos pelo povo alemão.
Mildred Harnack, uma estudante de pós-graduação americana que troca o seu Wisconsin natal por uma empobrecida mas culturalmente efervescente Berlim dos anos 30, depressa vê a sua vida de sonho transformar-se em pesadelo com a ascensão do partido nazi. Por amor ao marido e à pátria que a acolheu, decide arriscar a sua vida juntamente com um grupo de amigas: Greta Kuckoff, uma alemã de origens humildes aspirante a escritora; Martha Dodd, filha do embaixador americano em Berlim; e Sara Weiz, uma abastada judia que, de um dia para o outro, vê a sua vida perfeita ruir.
Este grupo pretende mostrar ao mundo a verdadeira Alemanha nazi, infiltrando-se dentro do regime para, através de jornalistas, militares e altos quadros do próprio regime nazi, reunir informações confidenciais e altamente comprometedoras, que “cantam” através do rádio à União Soviética, recebendo assim a designação de “Roten Kapelle” – Orquestra Vermelha.
Num momento em que a nossa cultura sofre uma grave crise, “As Mulheres da Orquestra Vermelha” revela-se um livro inspirador, habitado por heróis improváveis e essencial para relembrar que uma caneta pode ser uma arma tão ou mais poderosa que vinte espingardas – e que a voz da classe artística, seja ela pertencente a actores, dramaturgos, escritores ou músicos, é essencial na luta contra a intolerância, os abusos de poder e a limitação de liberdades.
Jennifer Chiaverini é autora de inúmeros romances históricos aclamados e best sellers do New York Times, incluindo “Mrs. Lincoln Dressmaker” e a muito apreciada série “Elm’s Creek Quilts”.
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