De quantas vidas – ou mortes, neste caso – precisaremos para descobrir a essência ou, pelo menos, aceitar o inevitável e ainda assim belo curso da existência? Nomeado para um prémios Eisner nas categorias de Melhor Mini-Série, Melhor Argumentista, Melhor Artista/Arte-Finalista e Melhor Colorista, “As Muitas Mortes de Laila Starr” (G. Floy, 2023) mergulha na eterna questão da imortalidade, e fá-lo através de um improvável acontecimento: o inesperado despedimento da Morte, tudo devido a uma reestruturação que tem lugar após o nascimento de Darius, o bebé que um dia irá inventar a imortalidade.
Recebendo um corpo mortal “para poder viver uma vida mortal com todos os prazeres que esta trazia”, a Morte renasce como Laila Starr e promete dar caça eterna – se for preciso – a Darius, de forma a recuperar o seu posto de trabalho, uma vez que diz não saber fazer outra coisa.
Uma missão que se revela algo complicada, levando-a à primeira de várias mortes, que resultam num novo renascimento com largos saltos no calendário. Depois desta primeira morte, a segunda vida de Laila Starr começa 8 anos depois. Este engano à mortalidade dá-se graças ao bacano Pran, o deus da vida que se deixou encantar por Laila, e que a trará de volta ao mundo humano vezes sem conta, até que os outros deuses decidam arranjar-lhe problemas com esta ilegalidade existencial.
Com argumento de Ram V, “As Muitas Mortes de Laila Starr” acompanham a vida de Darius, um bebé que se transformará em homem e que, pelo caminho, irá sofrer o primeiro desgosto amoroso, perder a inocência e ter o primeiro contanto com a morte. Mas é também a história da transformação de Laila, que irá aprender a aceitar a tramada partida do destino, aprendendo que “a vida é digna e bela, ainda que não seja sempre bonita”.
As ilustrações de Filipe Andrade são o espelho perfeito deste mundo imerso em sonhos, fantasia e na corda bamba entre a vida e a morte. Para o final estão guardados vários e sumarentos extras, como posfácios de Ram V e de Filipe Andrade, que explicam também vários dos métodos que utilizaram para chegar a bom porto com este belíssimo álbum.
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