Um torcer de mãos, um arquear as sobrancelhas, a alteração do tom de voz, o semicerrar os olhos, as maçãs do rosto a tingirem-se de vermelho, são formas de comunicar, mesmo quando é difícil de o fazer, acções desencadeadas por um acontecimento ou situação que nos obrigam a agir.
Susana, a protagonista do livro “As Minhas Amigas Emoções” (Bizâncio, 2020), convida os leitores mais novos a aventurarem-se no mundo das emoções, partilhando com eles como o medo a “ajudou a fugir de um sonho horrível”, a repugnância a salvou de saborear “um fruto muito amargo”, como é agradável e reconfortante sentir a “energia inesgotável da alegria” ou como a vergonha é tímida e a tristeza pequena e indefesa, explicando também como se deve proceder quando as emoções se expressam exageradamente.
Um dia, Susana “sentiu uma tremura nas pernas, prontas a atacar o adversário. Começou a suar e a bater nervosamente com o pé no chão, esperando assim descarregar um pouco da tensão em que estava. (…) cerrou os dentes com tanta força que lhe pareceu ouvi-los ranger” – a esta sensação Susana chamou raiva. Trata-se de uma emoção normal e saudável, ao contrário do que se possa pensar. A raiva energiza, é incontrolável, mas simultaneamente purificadora e catártica, como confirmam as palavras da jovem protagonista: “a raiva esvaziou-se de repente”, devolvendo a calma.
O texto de Chiara Piroddi dá a conhecer as emoções primárias – a tristeza, a alegria, a raiva, o medo, a repugnância, a vergonha e a surpresa -, partindo de situações da vida diária de Susana e de como ela convive com as emoções, sem receio e com confiança, esclarecendo que o papel adaptativo das emoções é essencial à sobrevivência de qualquer ser humano. O uso de letras maiúsculas no texto não é agradável à leitura mas, no entanto, compreende-se a sua finalidade: salientar as características inerentes a cada emoção.
O leitor nunca é alertado para a informação de que emoções, afectos e sentimentos são distintos, apesar de estarem inter-relacionados. O afecto exprime-se através da emoção, enquanto o sentimento é privado, íntimo. As emoções observam-se, os sentimentos são muito mais esquivos e difíceis interpretar. Talvez fosse pertinente este esclarecimento para o leitor.
As ilustrações de Alessandra Manfredi surgem como complemento do texto e exemplificativas de como as emoções são dirigidas para o exterior, públicas, manifestando-se organicamente. A paleta de cores é diversificada, havendo um esforço de associar uma cor a uma emoção específica – talvez seja esta a justificação para que as guardas do livro surjam com círculos do mesmo espectro de cores. “As Minhas Amigas Emoções” elucidam a omnipresença das emoções na vida dos seres humanos, de todas as idades e de uma forma transversal a todas as culturas.
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