Filipe Duarte Santos é professor catedrático jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável. A sua carreira como professor e investigador abrange disciplinas como a física nuclear teórica, a astrofísica e as ciências do ambiente, sendo estas últimas o tema do seu livro “Alterações Climáticas” (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2021).
Nesta obra, integrada na colecção Ensaios da Fundação, o autor procura “construir uma breve súmula do conhecimento científico actual sobre as alterações climáticas antropogénicas [derivadas da acção humana] e das respostas actuais e futuras aos desafios que colocam à humanidade”. Esse objectivo é alcançado com uma linguagem cientificamente rigorosa e um estilo de escrita directo e conciso, tornando este texto uma leitura muito recomendável para qualquer cidadão que deseje compreender melhor o que se passa com o clima e as consequências que daí podem advir.
Primeiro, são expostas noções de meteorologia e climatologia, essenciais à compreensão da ciência das alterações climáticas e das razões pelas quais estas aumentam a frequência e intensidade de fenómenos meteorológicos potencialmente destrutivos. Conceitos como o efeito de estufa são apresentados com clareza, havendo o cuidado de não demonizar compostos químicos que foram, provavelmente, cruciais para o desenvolvimento da vida na Terra.
Num esforço meritório para combater a desinformação, é explicado como a Ciência consegue demonstrar que as alterações climáticas mais recentes na história da Terra são uma realidade que não resulta dos ciclos naturais do clima, mas sim da acção humana, sobretudo do uso de combustíveis fósseis e da destruição das florestas.
Subsequentemente, o autor disserta sobre as respostas possíveis ao desafio das alterações climáticas, associando-as aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela ONU para 2030 e expondo estratégias para a sua mitigação, bem como para a adaptação da humanidade ao que já não puder evitar. Os riscos a considerar, além dos fenómenos meteorológicos, incluem mortes prematuras devidas à poluição atmosférica, à perda de acesso a água potável e à expansão de vectores de doenças.
As alterações climáticas representam também um problema ético. Como o autor refere, além do facto de a geração contemporânea estar a agravar um problema que afectará muito mais intensamente as gerações futuras, há uma “assimetria entre a distribuição geográfica das populações cujas actividades contribuem mais para as alterações climáticas e as populações mais vulneráveis a essas alterações”, assimetria essa que envolve uma desigualdade económica profunda e que se estende às capacidades de adaptação.
Apesar de tudo, o livro preserva alguma esperança no futuro. Instando-nos à mudança, Filipe Duarte Santos recorda que os objectivos do Acordo de Paris continuam exequíveis, mas, para serem atingidos, é necessária uma mudança social profunda a nível global, que confira prioridade ao planeta Terra e aos que nele habitam, em detrimento dos grupos de interesse puramente económico que se concentram nos lucros a curto prazo.
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