Ler este livro provoca uma avalanche de sentimentos: interesse imediato pela história; compulsão para a desvendar o mais depressa possível; êxtase pela trama misteriosa própria de um intenso thriller psicológico, com laivos de atração sexual entre as personagens; sedução pelo ambiente teatral preparado pelo narrador; desafio ao próprio discernimento do leitor, pelas inusitadas reviravoltas com que é enganado pelo narrador, que transforma o enredo abruptamente abrindo novas perspectivas ao pensamento; e curiosidade, instalada desde as primeiras páginas, sobre a identidade do assassino de mulheres.
Provoca, também, uma estranha sensação de dificuldade entre a identificação o bem e o mal, do lado negro e o lado alvo que cada ser humano tem, conduzindo-nos pela obra de Charles Baudelaire e um dos seus livros de poesia em particular, ” As Flores do Mal” – e, neste, pelos versos sobre a Vénus Blanche e a Vénus Noire, que à época foram considerados de depravada obscenidade e conduziram à apreensão do livro pelas autoridades e ao julgamento do poeta.
Sem antever muito da história deste “Acredita em Mim”, pode dizer-se que o talento da personagem principal é pôr-se na pele dos outros, mas apenas consegue – porque inglesa indocumentada – trabalho numa firma de advocacia a trabalhar em divórcios. As suas capacidades extraordinárias serão postas à prova quando, após o assassinato de uma mulher, começa a trabalhar para a Polícia.
“Acredita em Mim” (Suma de Letras, 2019) é um thriller emocional, transformado graficamente numa quase peça de teatro. A forma como os diálogos são inseridos é muito atraente, e JP Delaney revela ser um escritor de ficção muito – mesmo muito – criativo.
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