“A Viúva” | Fiona Barton

A jornalista. A viúva. O detective. Três vozes bem diferentes que guindam a narrativa de “A Viúva” (Planeta, 2016), o primeiro livro de Fiona Barton que, antes de se dedicar à escrita, foi jornalista do Daily Mail, editora de noticiário no Daily Telegraph e jornalista principal no Mail on Sunday, onde foi considerada a jornalista do ano pela British Press Awards.

No prefácio, Fiona diz que o livro partiu da sua observação das pessoas, sempre atenta à linguagem corporal e aos tiques verbais que servem de marca individual. Neste caso, dos sinais e dos silêncios que decorrem da silenciosa aceitação ou negação da culpa: “Nos grandes julgamentos – casos de crimes terríveis e revoltantes que enchem as primeiras páginas dos jornais – dei por mim a observar a mulher do homem sentado no banco dos réus e a interrogar-me sobre o que ela de facto saberia, ou se permitiria saber.”

É exactamente esse olhar que serve de motor a “A Viúva”, onde os capítulos giram à volta de Jean – a única que conta a história na primeira pessoa -, uma mulher que depois da morte de Glen, o marido, se vê perseguida por jornalistas, polícia e comuns mortais que exigem que conte a sua versão dos acontecimentos e diga se Glen seria, de facto, um implacável assassino em série.

A acção decorre entre 2006, data que marca o início da investigação à volta do desaparecimento da pequena Bella Elliot, e 2010, ano em que o seu alegado raptor e assassino – Glen Taylor – morre, deixando a sua viúva – Jean Taylor – sob o foco de imprensa, justiça e opinião pública, que querem que a viúva conte o que sabe sobre o desaparecimento de Bella, trazendo luz a um caso onde as provas estão longe de ser suficientes para encerrar o caso.

Neste livro, que gira à volta da ideia de que é fácil deixarmo-nos enganar pelos outros mas também por nós próprios, Fiona consegue manter o thriller em lume brando até ao seu desfecho, ainda que a última recta seja já um pouco previsível. De qualquer forma, mora aqui um livro construído com inteligência, que dará algumas voltas à cabeça dos leitores menos prevenidos.