“Os adultos cochichavam sobre o «aquecimento global» ou as «alterações climáticas», enquanto Ana registava todas aquelas novas expressões. Pela primeira vez na vida, pressentia que o mundo não estava bem.”
Do autor do aclamado “O Mundo de Sofia” chega-nos “A Terra de Ana” (Editorial Presença, 2017), uma ficção juvenil que, cruzando presente e futuro, nos traz uma reflexão sobre o tema das alterações climáticas pelos olhos de uma jovem de 16 anos.
Ana tem uma imaginação transbordante, sem limites, que muitas vezes a faz confundir sonho e realidade. Depois de receber um presente misterioso no seu 16º aniversário, sempre que adormece é transportada para o ano 2082, uma era pós-petrolífera em que quase todas as reservas fósseis de carbono foram queimadas e lançadas para a atmosfera, o que se tornou numa séria ameaça para os recursos do planeta, alterando a vida dos seres humanos por completo.
Milhares de espécies extintas e o surgimento de refugiados climáticos são apenas duas das consequências deste “mundo desolado” em que vive a sua bisneta, que se sente “enganada e atraiçoada” pelas gerações anteriores terem “saqueado todos os recursos do planeta”. Assumindo duas pessoas distintas em duas épocas diferentes, Ana recebe assim visões do futuro que a levam a assumir a missão de salvar o planeta como sua.
“Que direito tem o Homem de eliminar outras formas de vida?”. Esta é uma questão transversal em todo o livro, que nos faz partilhar com a personagem principal a consciência de que o Homem está a pôr o planeta em perigo sem pensar nas gerações futuras.
Não fosse Jostein Gaarder formado em filosofia, o leitor vai sendo confrontado com várias reflexões filosóficas sobre o tema, que culminam na apresentação de uma possível forma de combater o problema – bastante criativa, diga-se.
“A Terra de Ana” cumpre sem dúvida o papel nobre de alertar, sobretudo os mais jovens, público a que se dirige, para o aquecimento global e as alterações climáticas, mostrando que “o mundo é como uma luva reversível, também se consegue virar do avesso”.
Ainda assim, e talvez por se centrar tanto na temática em si, fica por desenvolver uma trama que deveria e poderia envolver mais o leitor, a par da escrita que, também, não estimula o fascínio que a dualidade presente/futuro poderia exercer.
Apesar de tudo, a mensagem é cristalina e de máxima importância: todos somos responsáveis pelo nosso planeta. “Temos de aprender a antever os nossos descendentes, a aproximar-nos daqueles que vão herdar a nossa Terra”.
No final, o autor deixa-nos plenos de optimismo, até porque, defende, “sermos pessimistas é renunciarmos à luta, é darmo-nos por vencidos”.
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