Depois de “Yoro” e de um mergulho nos contos reunidos em “A Tempestade” (Elsinore, 2018) – o mais recente livro da autora espanhola em Portugal -, não há outras palavras senão estas para descrever o universo de Marina Perezagua: inquietante, entusiasmante e feroz.
Este é um livro sobre o amor. Sobre os vários tipos de amor. Amor que se transforma em ódio. Amor que justifica a morte. Amor que se sobrepõe a qualquer convenção social, obstáculo ou preconceito. Talvez seja este o único – ou principal – tema que atravessa os vários contos reunidos em “A Tempestade”, embora a violência emocional seja uma característica indubitavelmente marcante do início ao fim.
O incesto que salva, a morte que celebra a vida, a libertação no aprisionamento. Marina Perezagua equilibra conceitos contraditórios, quase paradoxais, ao longo das suas histórias, e fá-lo de uma forma coerente, simples e brutal. Começa por apresentar ao leitor o contexto de cada história e leva-o, na maioria das veze,s num crescendo de violência e choque até o largar num desfecho doce e suave.
O que tem de especialmente interessante este livro de contos é que, independentemente dos conceitos que os caracterizam, todos são muito diferentes uns dos outros. Perezagua dá largas à imaginação e deixa-se levar pelo braço de personagens que vivem momentos diferentes, com problemas diferentes e contextos diferentes, o que permite que o leitor seja surpreendido de capítulo a capítulo.
A única sensação de familiaridade chega no conto Little Boy, em que somos remetidos para “Yoro”, o livro sensação da autora que conta a história de uma sobrevivente da bomba de Hiroshima. Nesta história conhecemos alguns pormenores da protagonista desse livro a partir do olhar de um terceiro, o que permite reviver e recordar a inquietação de alguém que, contra todas as probabilidades, sobrevive a um dos mais terríveis ataques da história recente. Carnal, grotesco e sem cerimónia. Assim é este livro de leitura obrigatória.
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