Os romances históricos de Jesús Sánchez Adalid já lhe valeram diversos prémios literários e, ao lermos “A Sublime Porta” (HarperCollins, 2020), a sua mais recente obra publicada em Portugal, percebemos porquê: a partir de toda a pesquisa que decerto teve de fazer, consegue criar uma intriga cativante, que se distancia da mundividência actual para se desenrolar segundo a perspectiva de um jovem com todos os valores, crenças e preconceitos típicos de um espanhol do século XVI.
Esse jovem é o cavaleiro cristão Luis María Monroy de Villalobos, que já protagonizou o livro anterior do autor, “O Cativo”, publicado pela mesma editora. A continuação da história da sua vida, que pode ser lida independentemente, começa no ano 1560, na ilha tunisina de Djerba, onde o exército do Rei Felipe II de Espanha, em contínuas contendas contra o Império Otomano, sofre uma terrível derrota. Para os vencidos, conhecer bem um ofício, saber línguas, dominar uma arte, ou pertencer a uma família suficientemente rica para pagar um bom resgate podem fazer a diferença entre uma execução imediata e a sobrevivência sob escravatura. Aos 19 anos, o talento de Luis María para tocar alaúde e cantar atrai a atenção do governador da cidade de Susa, na Tunísia, que o leva consigo para esse mundo estranho, onde predomina uma religião, o islão, que sempre considerou inimiga da sua.
Através de uma narrativa na primeira pessoa, acompanhamos as aventuras e desventuras do nosso herói, ao longo de cinco anos de vida em cativeiro. Com astúcia e perseverança, faz o que é preciso para sobreviver, conquistando amigos e aliados na complexa hierarquia dos escravos, mas mantém-se fiel às suas convicções mais íntimas, nunca perdendo a esperança de recuperar a liberdade. Quando o primeiro amo é promovido ao cargo de vizir do grande sultão Solimão, Luis María parte com ele para Constantinopla, também conhecida como Istambul, uma das maiores metrópoles da época, cuja diversidade linguística, cultural e religiosa surpreende o jovem. Aí, ascende até se tornar criado do guardião dos selos do sultão, posição essa que lhe dá acesso aos documentos oficiais do império e lhe permite desempenhar um papel crucial numa rede de espionagem, criada para transmitir informação de utilidade militar ao Rei de Espanha.
A acção é envolvente, não faltando paixões por beldades de um harém, nem situações divertidas, como aquela em que até um padre católico procura convencer o mui devoto Luis María a tornar-se muçulmano, de modo a servir melhor a conspiração. A riqueza da escrita torna vívidas as descrições e os diálogos animados contribuem para manter o leitor preso a esta recriação deliciosa de uma época fascinante, altamente recomendável para os apreciadores de narrativas históricas.
1 Commentário
Olá! estou escrevendo um Livro que menciona a Sublime Porta e outros locais próximos ao Corno de Ouro e Constantinopla, vou ler este livro da indicação, soube dele por meio de pesquisa google e acabei aqui, obrigado por postar!