E eis que, após a publicação de seis volumes escritos a duas velocidades e a quatro mãos por diferentes linhas temporais, chega ao fim a série Millennium, atravessada pela tragédia e uma acesa discussão em torno da ética. Eva Gabrielsson, a companheira de Larsson que ficou a arder devido ao sistema sueco, foi taxativa: “Não acho que seja a coisa certa a se fazer com um morto“.
Após a morte de Stieg Larsson, o autor sueco que morreu aos cinquenta anos de ataque cardíaco, o seu pai e irmão decidiram contratar David Lagercrantz para dar sequência à história de Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander, e a verdade é que outros três volumes se sucederam, ficando a série encerrada agora com “A Rapariga Que Viveu Duas Vezes” (Dom Quixote, 2019).
Para quem esperava uma conclusão em modo Hollywood – ou, pelo menos, tal como havia sucedido em “A Rainha no Palácio das Correntes de Ar”, a trilogia original -, este sexto volume é mais um action movie de low budget, e talvez o mais fraco de toda a série, onde duas histórias correm em paralelo: a da descoberta de um corpo sem vida de um sem-abrigo, encontrado num parque central da cidade de Estocolmo – conhecido por divagar sem grande simpatia sobre Johannes Forsell, o ministro da Defesa sueco -, e o aguardado ajuste de contas de Lisbeth Salander com Camilla, a irmã com quem construiu uma relação marcada pelo ódio, a desconfiança e uma sede de vingança.
O plot é pouco entusiasmante, mostrando aquilo que já antes se havia verificado no que dizia respeito às diferenças entre a escrita de Larsson e Lagercrantz, como o facto de o primeiro ter a habilidade de tecer melhor a trama – e de escrever também melhor – e o facto de o segundo se perder, por vezes, em frases mais dadas ao sentimento.
Se o quinto volume até tinha prometido algum vigor, este sexto volume está longe de cumprir aquilo que Lisbeth Salander prometia na capa: “Agora vou ser o gato e não o rato“. Parece ser um livro algo apressado, como se o próprio Lagercrantz estivesse, também ele, farto de dar voz a uma história alheia, não sendo aqui capaz de entusiasmar o leitor – é quase um livro em piloto automático.
Se for um daqueles leitores que já leu os cinco anteriores volumes, fará sentido ler também este. Se, por outro lado, nunca se tiver aventurado neste Millennium, fica o conselho: leia apenas os três primeiros e faça a festa da despedida com “A Rainha no Palácio das Correntes de Ar”.
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