Há quem diga, em jeito de prevenção ao desconsolo, que não se deve regressar a lugares onde a felicidade bateu e rebentou com a porta. No caso de Thomas, o regresso à Escola de Saint-Exupéry é inadiável, misturando um daqueles reencontros escolares com um fragmento do passado que, vinte e cinco anos depois, lhe continua atravessado como uma espinha na garganta. Fragmento que, com a construção de um novo edifício, será finalmente exposto, terminando com duas décadas e meia de sobressaltos, inquietações e segredos.
Em “A Rapariga e a Noite” (Gradiva, 2023), thriller assinado por Guillaume Musso, tudo está centrado na bela e misteriosa Vinca Rockwell que, então com 19 anos, desapareceu do mapa. A história oficial é a de que terá fugido com o seu professor de Filosofia, mas Thomas, agora um escritor bestseller, sabe que não foi bem assim. O problema é que, no tempo presente, há mais alguém que sabe da história, e as ameaças não tardam a surgir.
Guillaume Musso transporta o leitor para a Côte d`Azur, e fá-lo com personagens bem desenhadas e algum drama, balançando com mestria o estreitamento entre o passado e o presente, misturando vozes e ângulos até ao desvendar final.
Pelo caminho há spoilers de todo o tipo – como no “Perfume” de Suskind -, mas há também passagens apontadas ao sublinhado, com algum sumo literário – e sentimental – lá dentro: “Desde que me lembro, sempre me senti só, vagamente estranho ao mundo, ao seu ruído, à mediocridade que nos contaminava como uma doença contagiosa. Houve momentos em que pensei que os livros me podiam curar deste sentimento de abandono e de apatia, mas não devemos exigir demasiado deles. Contam-nos histórias, fazem-nos viver por procuração fragmentos de existência, mas nunca nos abraçarão para nos consolar quando temos medo”.
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