A pessoa humana é sagrada? O que define o ser humano e a sua sacralidade? Para que serve a beleza, o que é o direito e como difere da justiça? E como se separa o indivíduo do colectivo?
Em “A Pessoa e o Sagrado” (Guerra & Paz, 2022), Simone Weil (não confundir com Simone Veil, embora tenham sido contemporâneas e tenham tido áreas de interesse semelhantes) divaga, a partir das suas mais essenciais assumpções filosóficas, para definir a pessoa, a sua essência e a sua individualidade. Este ensaio, chegado directamente dos anos 40 aos nossos dias, é urgente e essencial para os filósofos e pensadores, políticos, gestores, leitores. Indivíduos.
Nascida no seio de uma família agnóstica, com um olhar pragmático e um sentido crítico equiparável aos pais das várias correntes filosóficas do seu tempo, Weil destrinça de forma minuciosa a Pessoa das suas vontades e opiniões, colocando-a sobre o Nada e, claro, também sobre o colectivo, para compreender e fazer entender o comportamento de cada um, as suas vontades, as suas emoções e os seus desejos.
Para além disso, Weil tem o cuidado de aprisionar o Ser entre a justiça e o direito (muitas vezes, o direito adquirido), bem como entre a sorte de se nascer com facilidades e o azar de se nascer vazio, discorrendo sobre a forma como estes conceitos e cenários embatem violentamente uns com os outros, e sobre a frustração que existe quando se trata de conceitos e situações absolutamente contraditórios, tornando-os intocáveis. O vagabundo que nunca será ouvido, e sentido, e compreendido, e tido como indivíduo, pelo magistrado que o julga, pois os seus gritos mudos não podem alcançar aquele que não partilha nem está familiarizado com a sua linguagem.
A infelicidade anda de mão dada com o sofrimento? A empatia é causa de mágoa? Porque é que a beleza é vazia? A ignorância de alguém sobre o seu cativeiro, ou falta de liberdade, é aprisionadora? Com um discurso profundamente apaixonado, Simone Weil guia-nos, por vezes de forma demasiado abstracta, pelos seus pensamentos, e atira-nos às suas conclusões de forma temerária, decidida, necessária. Não toma partidos, mas fala-nos deles.
“Há, no fundo do coração de qualquer ser humano, alguma coisa que espera invencivelmente que lhe façam bem e não mal. É isso que, antes de qualquer outra coisa, é sagrado em qualquer ser humano.”
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