“A Pantera das Neves” (Bertrand Editora, 2020) é o primeiro livro de Sylvain Tesson a ser publicado em Portugal, embora este escritor, poeta, ensaísta, explorador e viajante aventureiro francês, nascido em Paris no ano de 1972, tenha publicado vários livros de viagens, que descrevem o mundo de forma poética.
Tesson foca-se em valores magnos como a exploração interior, a quietude e a contemplação do mundo que nos circunda, bem como na sua primeira experiência junto do amigo e fotógrafo francês da vida selvagem animal Vincent Munier, que revelou a intangibilidade dos animais irracionais e a virtude suprema da paciência para a sua observação silenciosa.
O livro inicia-se com a viagem de ambos, juntamente com dois amigos, ao Tibete, para observação da pantera-das-neves, o animal mais esquivo do planeta, gracioso e poderoso, alvo de caça furtiva.
Para Sylvain Tesson, os caçadores destroem duas coisas de uma assentada: “matam o ser vivo e matam dentro de si o despeito de não serem tão viris, elegantes ou desprendidos como o animal adaptado à violência das altitudes”. Há, neste livro, uma filosofia rara sobre a própria e muito frequente morte no reino animal irracional, onde existe uma inelutável ordem e um permanente equilíbrio.
Sobre o homem, último dos seres vivos a chegar à Terra, o córtex deu-lhe a predisposição inédita e incoerente “de levar ao mais alto grau a capacidade de destruir o que não era ele próprio, enquanto se lamentava de ser capaz disso”. E, de facto, entre os seres racionais a morte não se representa na ordem ou no equilíbrio, antes na competição, no ganho material e na luta pela supremacia.
Há, nesta admirável obra, o desejo de renúncia (manifestado pelo autor) e a vontade de pertencer a um todo equilibrado, que nos convoca humana e filosoficamente para uma importante e imprescindível viagem pelo interior da natureza humana que, com o seu ritmo de vida e de actividade, tem trazido nefastas consequências ao mundo animal.
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