Na Literatura, tal como na vida, as comparações são uma coisa tramada. No caso de Ruth Ware, depois de uma obra de estreia intitulada “Numa floresta muito escura”, choveram comparações com Agatha Christie, que continuaram a ser feitas depois da edição do mais recente “A Mulher do Camarote 10” (Clube do Autor, 2017).
A personagem central deste novo thriller é uma jornalista com um historial rico em álcool, anti-depressivos e ataques de pânico e de ansiedade, que vê surgir a grande oportunidade de carreira chegar quando lhe é entregue a missão de fazer a cobertura da viagem inaugural do Aurora Borealis, um cruzeiro de cinco estrelas que levará os passageiros aos fiordes noruegueses.
Porém, aquilo que prometia ser um furo profissional de proporções épicas, vê-se abalado quando, depois de uma noite bem regada, a jornalista pensa ter testemunhado um crime no camarote ao lado do seu, onde nessa tarde havia falado com uma rapariga de vinte e tal anos que vestia uma t-shirt dos Pink Floyd.
Quando transmite esse facto ao responsável pela segurança do barco, é-lhe dito que todos os passageiros continuam a bordo, ficando no ar de que tudo não passa de mais uma crise motivada pela explosiva mistura de medicamentos e álcool. A única pista parece ser um frasco de rímel emprestado pela rapariga, mas até esse acaba por desaparecer. Decidida a provar que algo de estranho aconteceu, continua a investigar até que uma mensagem surge diante dos seus olhos, apenas por uns segundos, antes de o vapor dissolver as letras: “Pára de investigar“.
A prosa de Ruth Ware é leve e sem grandes artifícios, mas se a ideia é comparar a sua escrita com a de Agatha Christie ficamos por aqui. A forma como Christie tecia toda a trama, fazendo de cada personagem um potencial criminoso ou o modo como encenava o desvendar do crime reunindo todos os suspeitos, levando o leitor a dar cambalhotas sucessivas, não mora em “A Mulher do Camarote 10”. Fica uma trama bem tecida, com uma boa dose de claustrofobia e alguns sobressaltos.
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