Intenso e envolvente. Palavras suficientes para descrever “A Mulher de Cabelo Ruivo”, de Orhan Pamuk (Presença, 2018). Amor, laços familiares, mistério e modernidade marcam a beleza deste romance de Pamuk, assim como a paixão da leitura: “…livros de poesia, romances, históricos sobre aventuras de guerreiros otomanos e um livro sobre sonhos. Uma passagem deste livro iria mudar a minha vida para sempre”.
Nos arredores de Istambul, um escavador de poços e o seu aprendiz, Cem, são contratados para procurar água num terreno baldio. À medida que escavam o poço, metro a metro, sob um calor abrasador, vai-se desenvolvendo uma forte ligação entre ambos, como se fossem pai e filho, de uma forma nunca antes sentida quer pelo mestre quer pelo jovem Cem. Afinal, “para sobreviver, um escavador de poços tem de poder confiar no seu aprendiz como confiaria no próprio filho”.
Ao longo dos dias, as conversas entre mestre e aprendiz reflectem diferentes visões do mundo, partilhando cumplicidades e contando histórias um ao outro. “No silêncio pacífico que reinava ao pôr-do-sol“ olhavam o céu, ouviam “o canto de aves estranhas e raras” e o mestre, inspirado no Corão, contava “histórias ou contos de fadas”. O jovem Cem não esquece o livro sobre os sonhos que marcaria a sua vida – Rei Édipo. Mito que é repetidamente mencionado, bem como a história de Rostam, que matou o filho Sohrab por engano, uma lenda persa narrada no Shahnameh. O fascínio pelos livros está sempre presente, assim como a escrita e a evocação do ocidente e oriente, não esquecendo a a cidade de Istambul.
Ao final do dia, na cidade, o jovem aprendiz encontra uma atracção irresistível: a Mulher de Cabelo Ruivo, uma artista encantadora ligada a uma companhia de teatro itinerante, que atrai o seu olhar: “Tudo o que eu precisava era de pensar na ternura com que a Mulher de Cabelo Ruivo olhara para mim, a maneira como ela declarava que me reconhecia, e podia continuar sem me queixar”. O sonho do rapaz é realizado e, obcecado com este arrebatamento, esquece o mestre e regressa à sua cidade. Anos mais tarde, reencontra a misteriosa Mulher de Cabelo Ruivo e conhece o destino do mestre. Confrontado com o passado, há questões que surgem insistentemente: Afinal, quem é o seu mestre? Será ele Édipo ou Rostam? “A vida segue o mito!”, lê-se a certa altura. Mas seguirá realmente?
2 Commentários
Fascinante ❤️louca pra ler !
Já li outros dois do Orham Pamuk ❤️
Escritor ímpar
Estou quase no final do livro. Difícil desgrudar os olhos do livro. É muito envolvente e realmente muito fascinante!!