Dicionário necrológico? Enciclopédia do Além? Livro para ler enquanto seagiarda a triagem rumo ao Purgatório? Talvez uma mistura de tudo isto. Com o ar de microcontos, todos eles baptizados a partir de um nome próprio, “A Morte de A a Z” (Abysmo, 2022) enfrenta o outro lado olhos nos olhos, tratando de radiografar a curta existência enquanto se espera pelo autocarro que conduz daqui para fora. Uma viagem que começa com Abílio, a quem cabia a decisiva tarefa de “orientar os anjos, controlar a porta, ttratar da manutenção da escadaria e fazer relatórios sobre tudo”, e termina em Zut, um tipo que, num certo dia, “acordou num barco, sem saber como fora parar a um lugar tão a Norte”.
Há convocatórias de Deus, pessoas a quem o álcool remete ao silêncio, suicídios vários, boicotes ao próprio funeral, homenagens póstumas pelo bom cumprimento do serviço, reclamações pelo lugar de colocação pós-morte, obsessões com a Virgem Maria, problemas de origem arquitectónica, agressões à garrafada, atropelamentos, cadelas revoltadas, corações que rejeitam organismos, crocodilos a viver em apartamentos no 5º andar e, claro, breves mas sentidos obituários. Microcontos de A a Z sobre a tragicomédia humana, com muito humor negro e a precisão cirúrgica de um médico legista.
Com formação académica em Geografia (Universidade de Lisboa, 1988), Luís Afonso (1965, Aljustrel) foi professor da disciplina e trabalhou em projectos de desenvolvimento local/regional até 1995. A partir desse ano dedicou-se exclusivamente aos cartoons, actividade que havia iniciado 10 anos antes. Colaborou em vários jornais e revistas, tendo actualmente tiras diárias nos jornais A Bola (Barba e Cabelo, desde 1990), Público (Bartoon, desde 1993) e Jornal de Negócios (SA, desde 2003). É autor de oito livros de cartoons, sete como autor integral e outro como argumentista. Em 2012 publicou, na abysmo, “O Comboio das Cinco” e “O Quadro da mulher sentada a olhar para o ar com cara de parva”.
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