José Roby Amorim (1927 -2013) foi, como jornalista, um dos nomes mais respeitados deste meio profissional, tendo passado pelo então Diário Ilustrado, pelo ABC e pelo jornal O Século, para além da ANOP – Agência Noticiosa Portuguesa, da qual foi fundador. Como autor de prosa publicou “Elucidário de Conhecimentos Quase Inúteis” e “Dar Mão à Boca”. Quer como jornalista ou escritor, esteve sempre centrado na temática histórico-cultural portuguesa.
“A Morte da Avó” (Guerra & Paz,2017) é uma obra póstuma do escritor/jornalista, prefaciada por António Lobo Antunes num surpreendente “Leiam Isto”( escrito por um vulto literário que diz não gostar de prefácios) – onde, com veemência, exorta o leitor a conhecer o livro. Inclui também uma introdução e algumas notas explicativas, relevantes para a contextualização e compreensão histórica da obra, escrita por Nuno Roby Amorim, filho do escritor.
Roby Amorim apresenta um relato de factos e acontecimentos – a história de uma família que fez História – sobre um mundo que terminou com a morte da sua própria avó, de seu nome Maria Inácia da Conceição de Faria Machado Pinto Roby de Miranda Pereira da Rocha Tinoco, alguém que “demorava meia hora a debitar os apelidos” e que é apresentada como personagem central desta narrativa, nascida num Portugal que se digladiava entre facções ultraconservadoras e progressistas (absolutistas e liberais), desaparecida enquanto durava a Guerra Civil de Espanha.
O autor evoca uma mulher só, filha única, que nunca sorria porque esteve sempre na vizinhança da morte – morreram-lhe cinco dos sete filhos que concebeu com o marido, seu primo co–irmão, com quem nunca foi feliz -, mas senhora de uma ética e vontade indomáveis.
Como refere António Lobo Antunes, Roby Amorim “consegue transformar uma Mulher na saga de uma família e de um tempo, com um bom gosto e um poder evocativo de alto calibre. […] O grande protagonista da obra é o nosso País, que ele com destreza transforma numa galeria de personagens, a maior parte inesquecíveis, numa escrita ilusoriamente simples porque a sua mão é grande, rigorosa e austera. É uma pena que o Autor não nos tenha deixado mais livros como este, mostrando-nos quem fomos, quem somos e o que poderemos ser, numa linguagem que, apesar de enxuta, consegue retratar uma notável e complexa galeria de pessoas, factos e acontecimentos”.
Ancorado em factos históricos, Roby Amorim desvenda a história portuguesa contemporânea com uma sensibilidade e pendor humanistas, dando a conhecer com o detalhe de um historiador a situação política, literária, social e familiar de uma época – coincidente com o tempo de vida da Avó –, enquanto nos guia através da sua própria história familiar.
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