O significado de família é um mundo que vai, gramaticalmente falando, muito para além daquilo que o dicionário oferece. Se fôssemos convidados a escolher uma imagem para ilustrar, ao estilo de uma metáfora visual, aquilo que é uma família, as respostas seriam de uma diversidade capaz de dar origem a uma enciclopédia. “A Minha Família” (Asa, 2022), neste caso a de António Mota, faz com que o autor imediatamente comece a pensar em pássaros de todo o tipo, sejam grandes ou pequenos: “Às vezes fico quieto e consigo ver pássaros vestidos com penas douradas. Pássaros com penas azuis e bolinhas prateadas. Pássaros com penas pretas e riscas brancas. Pássaros com penas aos quadrados verdes e vermelhos”.
Neste seu novo álbum ilustrado, que conta com ilustrações de David Penela, António Mota faz da família um bando formado por pássaros variados, com personalidades e prioridades diferentes consoante a época do ano: “uns partem, outros chegam, uns beijam outros bicam, outros pensam e outros namoram”. E que, cada um à sua maneira, vão tratando de construir uma casa que sirva de porto seguro a residentes e visitantes, feita com “raízes fininhas, fios que mal se vêem, penas, galhos, pedacinhos de lã, pauzinhos, cascas, ervas compridas, folhas secas, lama”.
Um livro onde, batendo as asas, se dá a celebração da vida e a aceitação da morte, “quando o coração de uma cria deixa de bater”. Seja como for, asas, penas e patas à parte, todos acabamos por ter algo em comum, até mesmo com os pássaros: o som do coração. Tum Tum.
António Mota nasceu em Vilarelho, Ovil, concelho de Baião, a 16 de julho de 1957. Cedo concluiu o curso do Magistério Primário e aos 18 anos era já professor do Ensino Básico. Em 1979 publicou o seu primeiro livro, intitulado “A Aldeia das Flores”, e não mais parou de escrever, tendo-se dedicado essencialmente à literatura infanto-juvenil com mais de 80 obras publicadas.
Recebeu vários prémios, dos quais se destacam o Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens (1990) para Pedro Alecrim, o Prémio António Botto (1996) para “A Casa das Bengalas” e o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens, categoria “Livro Ilustrado” (2004), para “Se eu fosse muito magrinho” (com ilustrações de André Letria). Em 2014 e 2015 foi nomeado para o prémio ALMA, um dos mais importantes prémios internacionais na área da literatura infantojuvenil.
David Penela é ilustrador e, em part-time, devorador de pizza. Licenciado em Belas Artes – Multimédia e Mestre em Desenho e Técnicas de Impressão, vive, trabalha e passeia no Porto. Expõe de forma regular, individual e colectivamente, em Portugal e no estrangeiro, desde 2007. No seu trabalho explora as áreas do desenho, da ilustração e das técnicas de impressão, inspirando-se em temas da cultura popular para lhes dar um cunho pessoal através de utilizações inovadoras dos materiais, das texturas e do trabalho digital.
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