O amor assume diversas formas e feitios em “A Minha Adorável Esposa” (Suma de Letras, 2023), uma obra sombria e perversa mas estranhamente marcante e envolvente, que nos surpreende desde a sinopse até à sua última página.
Neste thriller vive-se um amor ardente mas distante, um amor que mata e que é, simultaneamente, casa e porto de abrigo. Ao longo das suas 392 páginas, fala-nos de um casal que se conheceu, por um mero acaso, numa viagem de avião, e cuja relação não tardou a desenvolver-se. Contudo, depois da paixão, dos filhos e da casa de sonho, o amor de Millicent e “Tobias” tornou-se rotineiro, aborrecido para ambos, somente uma ferida exposta em risco de infectar. Urgiu então a necessidade de reanimar esta paixão, inventar novas atividades de casal e multiplicar a adrenalina. Nunca a morte foi tão lúdica.
Se, inicialmente, julgamos estar perante uma família normal, com atitudes mundanas, depressa nos damos conta de que somos meros piões num tabuleiro de xadrez, iludidos inicialmente e enganados a cada jogada. Os personagens deste bestseller internacional vão, no desenrolar da história, dando a conhecer os seus segredos mais obscuros e demonstrando a sua personalidade camaleónica, moldando-se às circunstâncias.
E se, por um lado, vamos tendo desconfianças e criando as nossas próprias teorias, por outro, ao passar de cada página, colocamos em causa todas as nossas superstições iniciais. No fim, só é certo que esta obra nos arrepia, amedronta e transtorna. No final, fica a pergunta dupla: Pode o amor ser cego, surdo e mudo, como tanto se apregoa? Pode o mesmo influenciar-nos de tal modo que por ele nos tornamos uns foras da lei? As repostas podem, ou não, constar neste livro de Samantha Downing.
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