Da enxurrada de thrillers com selo nórdico que têm chegado às livrarias nacionais nos anos mais recentes, alguns deles vendidos como lagosta quando no máximo são caracoletas, uma das séries mais entusiasmantes é resultado da parceria Hjorth & Rosenfeld, responsáveis pela criação do mal-amado Sebastian Bergman, uma espécie de consultor do Departamento de Investigação Criminal com um passado traumático e um jeito muito particular para levar as mulheres para a cama, descartando-as logo de seguida sem direito a cigarro de consolação e muito menos a pequeno-almoço.“A Menina Silenciosa” (Suma de Letras, 2017) é já o quarto livro da série, e está uns furos bem acima do seu antecessor.
Numa casa de um bairro aparentemente tranquilo, uma família algo fundamentalista sobre o meio ambiente é brutalmente assassinada a tiro e em plena luz do dia. A investigação parece conduzir a um beco sem saída, isto depois de o único suspeito, alguém com uma forte propensão alcoólica, ter sido descartado. Até que se descobre que há uma testemunha do crime: uma menina chamada Nicole, que fugiu assustada para se esconder na montanha. Quando conseguem resgatar a criança, antecipando-se em segundos ao assassino, dão de caras com um silêncio total. Caberá a Sebastian Bergman tentar romper esta cortina de silêncio, ao mesmo tempo que vai recuando ao seu passado de perda e o tenta consertar com as peças recolhidas no presente.
Hjorth & Rosenfeld combinam na perfeição o thriller psicológico com um enredo com o seu quê de novela, dando vida e fazendo evoluir as personagens: Sebastian e Torkell andam às avessas, depois do último ter percebido que Ursula, na noite em que perdeu o seu olho, estava a jantar com Sebastian – e a poucos minutos de acabar enrolada com ele; Torkell tenta desesperadamente construir uma relação séria com Ursula, que decididamente não está para isso; Billy, a um passo de contrair matrimónio, desconfia que há algo mais do que espírito de camaradagem entre Vanja e Sebastian, pelo que decide em segredo avançar para um teste de paternidade; Vanja recupera aos poucos a nega que recebeu de se juntar ao FBI, sem saber que Sebastian é seu pai e que foi ele o responsável por não ter sido aceite; quanto a Sebastian, que parece ter refreado os seus impulsos sexuais – apesar de no capítulo da mentira continuar um dos seus mais exímios praticantes -, vive neste volume qualquer coisa semelhante a uma epifania.
Não faltam as manobras políticas, os jogos de bastidores e uma trama bem desenhada – mesmo que o desenlace seja pressentido a certo ponto -, fazendo deste quarto título um dos mais conseguidos da série. A porta para o quinto livro, essa, ficou escancarada.
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