Zumbidos de abelhas, grãos de cacau, restolhar da gravilha, morangos selvagens, aspereza da madeira, aromas exóticos, folhear de páginas. Texturas, sons, cores, cheiros, sabores, temperaturas. Quem conhece outros livros de Joanne Harris sabe que as suas histórias ficam marcadas não apenas pela complexidade das personagens, mas também pela forma do discurso. O tom é dócil e apaixonado, a visão romântica, as descrições pormenorizadas. Cada um dos elementos é tão cheio de características físicas que é quase possível tocar-lhes.
“A Menina que roubava Morangos” (Asa, 2019) é o mais recente livro da autora e acompanha a história das personagens nascidas no famosíssimo “Chocolate”, o primeiro livro desta série que narra a história de Vianne e da sua mudança para Lansquenet-sous-Tannes, onde se encontra no centro de uma narrativa simples e intrigante. Vários anos depois da introdução a essas personagens, onde o contexto é profundamente detalhado, Joanne Harris leva o leitor mais uma vez ao interior de França, para que possa acompanhar a evolução e futuro deste grupo de pessoas.
Este livro centra-se grandemente na filha mais nova de Vianne, Rosette, uma rapariga “especial” com 16 anos que herda da mãe a visão colorida do mundo. O amigo imaginário (ou invisível), a capacidade de ver a aura das pessoas e a aptidão para influenciar os elementos à sua volta carregam ainda mais o livro de magia invisível (quiçá apenas um toque de ligeiríssimo misticismo) e de pensamentos mágicos. A interpretação poderá depender apenas do espectador desta história e da sua capacidade de se embrenhar num cenário de conto de fadas, dado que se pode encarar esta visão ingénua e mágica do mundo de forma literal ou, simplesmente, encontrar os significados escondidos em cada um destes momentos: a interpretação dos outros, a procura de identidade, a leitura das emoções, a identificação de elementos externos que reflectem aquilo que a personagem sente.
A ira, a alegria desmesurada, o sentimento de incompreensão e o descontrolo emocional acompanham esta adolescente especial, diferente, incompreendida. Miúda praticamente mas com uma voz interior muito determinada, Rosette procura por si própria e pelo seu caminho e, nesta descoberta, vamos acompanhando a história também através da sua mãe e do pároco da vila, cada um dos quais a encarar o seu pior medo: o passado.
1 Commentário
[…] Para ler o texto completo, visitar o Deus me Livro. […]
https://folhasdepapel.wordpress.com/2019/10/29/a-menina-que-roubava-morangos-2019-de-joanne-harris/