Abrir este livro é uma aventura de fruição visual, que oferece uma leitura muito interessante e original, com a apresentação prévia das personagens que compõem o livro a ser feita com fina ironia e uma mordacidade por vezes hilariante.
O livro foi escrito por Marco Maldaldi, doutorado em química mas que, neste romance, se transforma num historiador e investigador, revelando aspectos curiosos sobre Leonardo Da Vinci quinhentos anos depois da sua morte, trazendo de volta (à vida ficcionada) uma das maiores e mais emblemáticas figuras humanas do Renascimento que nos desafiou através da inteligência.
A história de “A Medida do Homem” (Suma de Letras, 2019) remonta à Florença dos Médici de 1493 e, também, à Milão sob a liderança de Ludovico Sforza, o Mouro, Duque de Milão que protegeu Leonardo da Vinci e outros artistas e que lhe encomendou a “Última Ceia”, entre outras obras.
Leonardo Da Vinci, o homem, vive por cima da sua oficina, em Florença, com a mãe. Não come carne, escreve de forma inconfundível da direita para a esquerda e luta para que os seus empregadores lhe paguem um salário. “A sociedade florentina é provavelmente uma das primeiras para as quais o dinheiro se torna valor fundamental, abstracto, e não só objecto acessório, dando vida ao tipo de finança que ainda hoje usamos”, escreve Marco Malvaldi numa nota final.
A fama de Leonardo da Vinci como artista e pensador estende-se para além dos Alpes, chegando à corte francesa de Carlos VIII. Há quem diga que o pintor/inventor/ cientista/ matemático/engenheiro/anatomista/escultor/arquitecto/botânico/poeta/músico italiano mantinha os seus projetos, estudos e desenhos mais avançados para a época, incluindo o projecto de um cavaleiro mecânico invencível, num caderno escondido sob as longas vestes – ou, como escreve o autor, no ”berrante tecido cor-de-rosa das suas vestes”.
Quando um homem é encontrado morto no pátio do castelo, Ludovico, o Mouro pede ajuda a Da Vinci para investigar e explicar esta morte. Embora o corpo não mostre sinais de violência, a morte é altamente suspeita: rumores de uma praga ou explicações supersticiosas precisam ser refutados rapidamente, e Leonardo não pode recusar este pedido. A partir daqui a história desenvolve-se através de jogos de inteligência (personificados por Leonardo da Vinci) com o próprio leitor, onde se misturam de forma engenhosa e palaciana o crime, a intriga e o dinheiro.
A trama oferece um saboroso humor e uma refinada dose de ironia, com os diálogos e as posturas das personagens adaptados à época retratada. Existe sempre um subentendido diálogo com o próprio leitor, com interjeições, chamadas de atenção e confidências do escritor ao leitor contemporâneo, que tornam a leitura muito agradável.
Marco Malvaldi, escritor reconhecido, nasceu e mora em Pisa, onde se doutorou em Química. Os seus romances policiais valeram-lhe o Prémio Isola d’Elba e o Prémio Castiglioncello.
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