Se há coisa que nos aquece a alma e dá alento é um livro, um chá e uma visita a uma livraria peculiar. Em “A Livraria dos Pequenos Milagres” (Marcador, 2024) residem todas estas coisas e, ao folhear de cada página, sentimos o renovar das energias e o enternecer dos corações.
Apesar de nos dar a conhecer todo o percurso da jovem arqueóloga Agnes e a sua mudança de Barcelona para Londres à procura de uma oportunidade de trabalho, é a livraria que se assume como personagem principal deste romance. Se dita a gíria tradicional que todos os caminhos vão dar a Roma, neste caso todos os caminhos vão dar à Moonlight Books.
“A Livraria dos Pequenos Milagres” é um chá quente e calmante num dia de inverno: bebe-se de um trago. Uma obra doce, leve mas real. Nas suas 200 páginas fala-se de sonhos, da não realização dos mesmos e da dificuldade dos jovens prosperarem no mercado de trabalho. O livro aborda ainda as dificuldade que enfrentam pequenas editoras e a sua escassez de receitas. Fala de problemas mundanos, de amor, solidariedade e, acima de tudo, de muitos e bons livros.
Abrimos uma pequena porta azul e conhecemos Edward Livingstone, o dono desta livraria “milagrosa”, que apesar do seu ar de resmungão é um coração de manteiga. Os livros, a sua livraria com vista privilegiada para as estrelas e a editora SIoban Clark são a sua paixão, e a sua personalidade e conhecimento literário apaixonam até o mais frio dos leitores. Agnes cruza-se com este personagem ímpar num dia chuvoso, e encontra neste espaço icónico um refúgio para a chuva e para a vida.
Como é sabido por qualquer apreciador de literatura, curam-se feridas da alma com livros e reconstroem-se corações partidos. Tal como nos diz a autora, Mónica Gutiérrez, “lar é o lugar onde guardamos os livros“, estes objectos tão preciosos que nos permitem viver em realidades utópicas e locais longínquos, vestindo a pele das mais variadas personalidades. Se “A Livraria dos Pequenos Milagres” tivesse um rótulo com a sua composição, seria algo como isto: “Esta obra literária é rica em citações de autores muito variados, contém vestígios de clássicos da literatura e extractos de muitos e diversos leitores, mais ou menos entusiastas”.
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