Trabalho colectivo. Relação com a terra. Convivência em harmonia. Conceitos com sotaque sindicalista que, mesmo quando chega a hora de semear cenouras n`“A Horta do Simão” (Kalandraka, 2017), estarão longe do pensamento do pequeno coelho.
Como em tudo na vida, há que proceder a uma série de preparativos e seguir uma ordem natural das coisas: fazer uma cerca, preparar a terra, arranjar e espalhar as sementes, não descurar a rega e apostar no tratamento.
O Simão trabalha de sol a sol, mas tem fama de ser pouco simpático. Mesmo tendo contado com a ajuda de outros pequenos animais, e com cenouras suficientes para construir um arranha-céus cor-de-laranja, o Simão vai torcendo o nariz às ideias de expansão e diversidade dos outros animais, que vão sonhando com alfaces, tomates e tudo o que possa ajudar a uma boa salada – ou ainda com beringelas, milho e morangos, o céu é mesmo o limite para os desejos gastronómicos destes pequenos agricultores.
Até que, no meio de tanto novo legume e azáfama – e já depois de ter sido dada luz verde aos novos espécimes -, tanto o Simão como as cenouras vão desaparecendo, até que o coelho surge com um ar cerimonial e ar de poucas conversas. Será que vão ser expulsos da horta? Ter-se-ão esticado nos seus desejos de grandeza vegetal?
Com uma paleta de cores reduzida ao laranja e ao preto, Rocío Alejandro apresenta aos mais novos o espírito comunitário e de partilha, que no caso do Simão constituiu um duplo desafio: partilhar o seu espaço e aceitar a inclusão de novos elementos.
Nesta história, onde se inspirou na horta comunitária do seu bairro, Rocío elaborou as ilustrações com base na técnica da estampagem com carimbos, um processo criativo muito trabalhoso. Na sua aparente simplicidade, este é um livro bastante complexo, tanto na técnica como na mensagem que pretende fazer chegar aos seus leitores.
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