Digam todos 38. É assim que vai a contabilidade no que diz respeito às aventuras de Astérix e Obélix, criadas pela dupla Goscinny e Uderzo e que, de há uns anos para cá, têm sido continuadas por outra boa gente, de modo a perpetuar um legado que tem divertido sucessivas gerações.
Dois anos após a edição de “Astérix e a Transitálica”, chegou às livrarias na recta final do ano passado “A Filha de Vercingétorix” (Asa, 2019), com texto de Jean-Yves Ferri e desenhos de Didier Conrad, que tem uma vez mais lugar na aldeia mais irredutível da Gália. Sim, aquela que, no ano 50 a.C., os romanos tentam conquistar sem sucesso, levando sucessivas cargas de porrada dos intrépidos gauleses que são, quando há romanos no radar, alimentados a poção mágica pelo druida Panoramix – todos menos o coitado do Obélix, que teve o azar de cair no caldeirão quando era bebé.
Desta vez, a protagonista maior é a filha secreta do chefe Vercingétorix que, perseguida pelos romanos, se refugia no único lugar não ocupado de toda a Gália. Uma adolescente especial que, quando cumprimenta o chefe da aldeira Matasétix, o faz com um muito delicado “tá-se bem” – mas sem o sotaque Averne, que tornaria a leitura muito lenta ao leitor. Vercingétorix que, é preciso dizer, tem andado com a cotação em baixa desde que levou uma sova em Alésia, pelo que o seu nome é dito sempre de forma sussurrada – assim como o de Voldemort era dito a medo no planeta do Harry Potter.
Após ser entregue aos cuidados dos gauleses, a despedida é feita com um pequeno aviso em relação à teenager: ela raspa-se. O que faz com que Astérix e Obélix tenham de juntar, ao espírito de guerrilha, os cuidados de boas amas, atentos e dedicados, para que a pequena não caia nas mãos de Maniacossérix, que anda no terreno a mando de César – que lhe prometeu incluir o 13º mês na folha salarial caso a missão seja cumprida.
Numa história onde se tocam os temas do crescimento e do desejo de independência, não faltam os já conhecidos piratas, adolescentes a beberem shots de poção mágica em tampinhas, o momento em que nasce o cap – boné, usando uma palavra do dicionário – ou o surgimento do mal-amado Cacafonix, que é por esta altura um ídolo da pequenada. Ainda que um pouco colados ao espírito clássico e ao peso dos criadores, Ferri e Conrad dão conta do recado – e do legado -, podendo tentar uma abordagem mais radical no 39º álbum.
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