Anna Giurickovic Dato nasceu na Catania, há 28 anos, e vive actualmente em Roma, Itália. Em 2012 escreveu “Polimena, Polimena”, história à qual foi atribuída, nesse ano, o primeiro lugar no Festival Internacional de Literatura de Roma.
“A Filha” (D.Quixote,2018), o seu primeiro romance, assume uma temática forte e incómoda, numa escrita que a autora, de alguma forma, pretende tornar tão ambígua quanto a de um Alberto Moravia. Fica-se, porém, pelo recorte (incómodo e complexo) dos factos, sem se deter na densidade complexa dos perfis psicológicos de extremo sofrimento (Maria e Sílvia, sua mãe), num livro que evoca necessariamente “Lolita”, publicado em 1955 pelo escritor russo–americano Vladimir Nabokov.
O romance desenrola-se entre as recordações de Rabat – com crimes contra a autodeterminação sexual e a personalidade em desenvolvimento de uma criança de cinco anos no interior da família nuclear ”perfeita”) – e o momento presente, na cidade de Roma – apenas com a mãe e a filha, agora de treze anos, tendo o pai morrido em circunstâncias misteriosas.
A história é narrada na primeira pessoa por Sílvia, viúva de Giorgio e mãe, que falhou na protecção da filha, atormentada por um “passado” que não percebeu nem decifrou devidamente e que trouxe consequências terríveis para Maria e, também, a si própria. Sílvia que tem um namorado que a filha, aparentemente, tenta seduzir com um comportamento inequivocamente sexualizado.
É um romance verdadeiramente perturbador, que fica na memória pela imensa desprotecção das suas personagens: mãe e filha, enredadas numa vida onde não conseguem contrariar as acções de Giorgio – a não ser a filha, aquela que deveria ser protegida, que o faz da forma mais terrível e definitiva. Fica, para o leitor, a sensação de que a autora optou por apenas elaborar uma moldura ou um esboço dos perfis psicológicos, sem se aventurar pelo imenso sofrimento destas personagens. E, neste sentido, a narração torna-se algo letárgica.
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