“Bem-vindos a Vale de Bocejo, um ligar idílico, com suaves colinas verdes que descem até aos regatos e vacas até onde a vista alcança“. Um lugar com tantas vacas que, se fossem todas empilhadas, “cobririam duas vezes a distância entre a Terra e a Lua“. Um lugar onde, em 1836 e devido a um erro de votação, uma vaca foi eleita Presidente da Câmara Municipal, chegando mesmo a um segundo mandato.
Contrariando o clima geral, Miles Murphy não tinha uma paixão por vacas. Conhecido na sua anterior escola como um mestre das partidas, Miles está desolado com a mudança forçada para Vale do Bocejo. Na sua nova escola, Miles irá ter como mestre-de-cerimónias (uma política da escola) um rapaz chamado Niles, a quem vê como “o bem intencionado, o manteigueiro, o bufo da escola.”
O que Miles não sabe é que, por detrás de uma aparente folha exemplar de comportamento, Niles é na verdade o mestre absoluto no que à arte de pregar partidas diz respeito, algo que fica bem patente logo no primeiro dia de aulas quando um carro aparece estacionado na escada de acesso à escola sem que ninguém o consiga de lá tirar. Miles tentará desenhar a partida suprema, mas desde cedo verá que Niles está sempre um passo à sua frente, mas pronto para o aceitar como parceiro desde que atire o protagonismo janela fora. Afinal, “um criador de partidas não as prega para ficar com a fama“.
Neste “A Dupla Terrível” (Planeta, 2016) – já por aqui falámos do segundo volume -, e para além destes dois rapazes com nomes quase iguais, não faltam personagens dignas de um filme com contornos de comédia, tais como Josh Barkin, o filho do director Barkin, um manhoso com ar de imbecil que, recorrendo à batota e ao facto de os Barkin dominarem a escola desde há um bom número de gerações, consegue ser sempre o director de turma.
Para além de uma guerra de partidas de contornos épicos, “A Dupla Terrível” oferece uma muito divertida história sobre a amizade, mostrando como mesmo as mais estranhas figuras poderão encontrar um parceiro fora das convenções e da rotina, seja esta feita de deveres escolares ou da vida em família. Revela ainda uma fantástica teoria sobre a primeira partida do 1 de Abril, recuando para isso ao ano de 1698,
“A Dupla Terrível” mostra-se também como um precioso manual de como compreender as vacas, dando a conhecer ao longo do livro factos tão extraordinários como estes: as vacas não podem vomitar; uma vaca leiteira pode produzir mais de 50 quilos de saliva por dia. São muitas colheres de chá; as vacas não assaltam bancos.
“Pela minha honra, farei o meu melhor
Para ser bom a ser mau;
Para perturbar, mas não destruir;
Para envergonhar os rígidos e distrair os alegres;
Para dedicar a minha mente às chalaças,
partidas, travessuras e intrigas;
Para provar que o mundo parece melhor
virado de cabeça para baixo:
Porque sou um perito em partidas.
Assim seja.”
Ámen, dizemos nós a um dos mais divertidos livros que a pequenada poderá encontrar nas livrarias nacionais.
Sem Comentários