A responsabilidade chega com o peso de um lutador de sumo. “Um dos melhores thrillers de sempre”, lê-se na capa de “A Criada” (Alma dos Livros, 2023), o thriller assinado por Freida McFadden que, no ano acabado de finar, foi o livro mais vendido em Portugal.
A protagonista dá pelo nome de Millie. Alguém que, a viver dias difíceis, fez do carro a sua moradia, enquanto vai tratando de procurar emprego. A solução para o infortúnio, tanto financeiro como habitacional, poderá passar pela candidatura ao posto de criada interna, numa casa com a vibe de um hotel de cinco estrelas. O único senão é que terá de viver num quarto minúsculo e que lhe transmite um mau pressentimento: “Ainda não consigo perceber ao certo o que me incomoda. Há algo neste quarto que faz com que uma pequena bola de temor se forme na boca do estômago”. Porém, quando dias depois da entrevista acaba por receber sinal verde para a mudança, decide arrumar o desconforto no porta-luvas e seguir viagem.
Na casa vivem Nina, uma patroa tramada que parece sofrer de esquizofrenia, mudanças de humor e perturbações várias; o marido Andrew Winchester, que alia simpatia a boa aparência, com “olhos castanhos penetrantes, uma densa cabeleira cor de mogno e uma covinha sensual no queixo”; e Cecília, a filha de ambos, uma miúda arrepiante, mimada e intragável, que parece conseguir ler a mente alheia – e que tem com a comida uma relação quase matemática. Ou, de forma mais cinematográfica, “sabem aqueles filmes sobre o culto assustador de, tipo, miúdos arrepiantes que conseguem ler pensamentos e adoram o Diabo e vivem nos campos de milho ou assim?”. É mais ou este o lar doce lar.
Os sinais de alarme são sempre muitos, desde uma fechadura que só fecha por fora a estranhas marcas gravadas na porta, e até mesmo Enzo, o tatuado e estiloso jardineiro italiano que não arranha uma palavra de inglês, consegue vencer a timidez para lhe sussurrar um “pericolo”, mas o desespero e um CV onde constam 10 anos passados na prisa acabam por vencer o desconforto.
Apesar de metade do desenlace ser, para quem anda nesta boa vida do policial há algum tempo, algo previsível, Freida McFadden dota Millie do humor cómico de Lizzy Tucker (Janet Evanovich) e da frieza assassina de uma Lisbeth Salander (Sieg Larsson), transformando-a numa personagem memorável – e que voltará a dar cartas em “O Segredo da Criada”, já disponível nas livrarias.
Sem Comentários